Os Impactos da Crise Climática no Brasil e Mundo: Uma Perspectiva Contra-Hegemônica e Revolucionária
- João Pedro Ferreira Santos
- 30 de jan.
- 6 min de leitura
Introdução
O planeta, desde a Revolução Industrial e o surgimento e consolidação do capitalismo, vêm sofrendo com os impactos do colapso ambiental causado pelas engrenagens do sistema econômico vigente. A exploração desenfreada dos recursos naturais e a busca incessante por lucro nesse modo de produção são os principais motores da crise climática.
Como argumenta Karl Marx em sua obra “O Capital”: “ o capitalismo é inerentemente voltado para a exploração ilimitada da natureza, tratando os recursos naturais como commodities a serem extraídas sem considerar seus limites ecológicos (MARX, 1867)”. Essa lógica de "acumulação primitiva", tal como descrita pelo sociólogo, também se manifesta no Brasil, onde vastas áreas de floresta são desmatadas para a expansão das monoculturas e do agronegócio, impulsionando o processo de degradação ambiental e acelerando o aquecimento global.
O enfoque na industrialização e expansão urbana reflete as demandas do atual sistema econômico e do latifúndio, enquanto geram diversos prejuízos, como geração e despejo inadequado de resíduos sólidos; poluição das águas, ar e solo; desmatamento em grande escala; desequilíbrio ecológico; alterações climáticas e violência contra os povos tradicionais. Os países do Sul Global e as populações marginalizadas sofrem desproporcionalmente afetadas pelas mudanças climáticas, apesar de contribuírem menos para as emissões de gases deefeito estufa. O que reflete o legado histórico do colonialismo, neocolonialismo e imperialismo , ainda presentes nas estruturas da nossa sociedade.
Há uma segregação evidente entre comunidades racializadas/populações específicas – como indígenas, quilombolas, ribeirinhos, quebradeiras de coco, geraizeiros, marisqueiros, extrativistas, caiçaras e, em alguns casos, agricultores familiares – e comunidades brancas de classe alta/média-alta. Essas primeiras populações enfrentam diversas formas de violência ambiental, como a construção de grandes empreendimentos (barragens, rodovias e hidrovias), que muitas vezes resultam em expulsões de seus territórios ancestrais. Nessas condições, acabam sendo obrigadas a viver em áreas degradadas e com condições ambientais desfavoráveis.
Os povos indígenas, em particular, enfrentam de maneira ainda mais acentuada a invisibilização por parte do Estado, além de sofrerem os impactos diretos da poluição causada por atividades como o garimpo ilegal e o desmatamento desenfreado. Além disso, estes sofrem diversos ataques por parte de determinados grupos, como explicitam Joelson Ferreira a Erahsto Felício no livro “Por Terra e Território: Caminhos para a Revolução dos Povos no Brasil”:
“O reconhecimento efetivo dos direitos assegurados pela Constituição Brasileira é banalizado pelas bancadas compostas por partidos políticos que defendem os interesses dos grandes empreendimentos rurais. Inclusive, esses que defendem o poder do capital são os mesmos que promovem iniciativas que visam desorganizar as conquistas já reconhecidas pelo Estado brasileiro. Como exemplo, vide a discussão atualmente em pauta no Supremo Tribunal Federal, que pode definir o futuro das terras indígenas do Brasil a partir da esdrúxula tese do “marco temporal”, segundo a qual nenhum povo indígena teria direito à demarcação de suas terras ancestrais caso não as tivesse efetivamente em sua posse no dia 5 de outubro de 1988, data da promulgação da nossa Constituição Federal.”
Diante disso, a burguesia busca “alternativas milagrosas” para o combate à crise que ela mesma gerencia, como o capitalismo verde – abordagem que busca conciliar o crescimentoeconômico com a preservação ambiental –, as tecnologias de geoengenharia – conjunto de tecnologias emergentes que podem atuar no meio ambiente compensando parcialmente alguns dos efeitos das mudanças climáticas no sistema climático – e os créditos de carbono – mecanismo monetário que representa a redução de uma tonelada métrica de dióxido de carbono equivalente (CO2e) ou sua remoção da atmosfera –. Porém, analisando as causas estruturais da crise climática, observa-se que essas iniciativas são rasas e perpetuam as desigualdades e explorações desenfreadas dos recursos naturais, sendo apenas uma forma de mercantilização da natureza.
A perspectiva contra-hegemônica se torna essencial para a compreensão e o enfrentamento da crise climática, uma vez que busca desmascarar as narrativas e soluções promovidas pelas elites econômicas e políticas dominantes, que frequentemente visam a manutenção do status quo . Esse panorama desafia a ideia de que a solução para as mudanças climáticas pode ser encontrada dentro dos limites do sistema capitalista. A crise ambiental é, em sua essência, um reflexo das contradições internas do capitalismo, que, ao priorizar o lucro, a acumulação e o crescimento econômico ilimitado, exauriu os recursos naturais e colocou em risco os ecossistemas planetários. Portanto, a única maneira de lidar com a crise de forma verdadeira e duradoura é buscar alternativas revolucionárias que questionem o modelo econômico vigente e promovam a justiça social e ambiental.
É de extrema importância a retirada do controle dos recursos naturais das mãos de corporações multinacionais e colocá-los sob a gestão democrática das massas trabalhadoras. Nesse sentido, diversos movimentos sociais, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e a Teia dos Povos, buscam combater o latifúndio e lutam pela Reforma Agrária Popular – desapropriação de latifúndios que não cumprem função social, ou seja, estão sem produzir a algum tempo, e distribuição de forma igualitária para toda a população –, trazendo impactos positivos para toda a população, como redução das desigualdades sociais, aumento da produção de alimentos orgânicos, geração de emprego e renda, estímulo ao desenvolvimento econômico, preservação ambiental, fortalecimento da soberania alimentar e estímulo à produção agroecológica.
Exemplos históricos em experiências revolucionárias tornam palpável a importância dessa retirada do poder sobre os recursos naturais da burguesia, por exemplo, a Reforma Agrária em Cuba: Após a Revolução Cubana (1959), o governo implementou uma ampla reforma agrária, redistribuindo terras e colocando-as sob controle de cooperativas e do Estado. As instituições agrícolas priorizaram a produção local e sustentável de alimentos, reduzindo a dependência de importações.
Além disso, as potências imperialistas se aproveitam de países subdesenvolvidos – geralmente do Sul Global – para a exploração de recursos. Segundo a BBC News (fevereiro de 2018), foi constatado que uma mineradora norueguesa tinha um “duto clandestino” para o lançamento de rejeitos em nascentes amazônicas, contaminando rios e afetando a vida de milhares de pessoas que dependem de suas águas para subsistência
Em outra reportagem, “‘Ninguém quer o que pescamos': o drama dos pescadores com o petróleo no litoral da Bahia”, de 2019, apontou sobre os derramamentos de petróleo em todo o litoral nordestino, que afetou milhões de moradores, em especial, os pesqueiros e marisqueiros, que dependem totalmente de suas coletas para a garantia de sua renda. Esse derramamento causou a morte de dezenas de milhares de peixes, contaminados com os resíduos do petróleo, e que não podiam ser consumidos pelo mesmo motivo, afetando toda a economia local. Investigações da Polícia Federal concluíram que um navio petroleiro de bandeira grega teria sido o responsável pelo lançamento da substância no litoral brasileiro.
Neste contexto, surgem os Refugiados Climáticos, vítimas de uma das mais cruéis consequências das mudanças climáticas que ocorrem no nosso planeta. O aumento de desastres naturais, como inundações, furacões e secas, está forçando milhões de pessoas a deixarem suas comunidades, cidades ou até mesmo países em busca de segurança. A migração forçada por motivos climáticos é uma realidade crescente, mas ainda não é reconhecida de forma adequada nas políticas nacionais e internacionais.
Quando são obrigadas a sair de suas vidas para buscar proteção, não recebem uma assistência humanitária devida, o que dificulta sua permanência e acaba deixando-as ainda mais vulneráveis, o que limita suas possibilidades de sobrevivência, proteção legal e institucional.
Ademais, os países em desenvolvimento, que já enfrentam desafios econômicos e sociais, muitas vezes se tornam os principais destinos de migrantes climáticos, agravando desigualdades regionais e tensões sociopolíticas.
Em suma, a crise climática que enfrentamos não é apenas uma questão ambiental isolada, mas também política, social e econômica, profundamente enraizada nas contradições do atual sistema econômico vigente. A busca incessante por lucro, a exploração desenfreada dos recursos naturais e a perpetuação de desigualdades históricas colocaram o planeta à beira de um colapso ecológico sem precedentes.
Diante deste cenário, as “soluções” propostas pela elite burguesa são apenas superficiais, não combatendo radicalmente as dinâmicas de exploração e se mostrando perpetuadoras das condições de desigualdade que as mesmas geram. É essencial, portanto, desmascarar essas iniciativas e buscar alternativas que priorizem a justiça social e ambiental, rompendo com o paradigma hegemônico do crescimento econômico ilimitado.
Por fim, a luta por um futuro ecologicamente equilibrado e socialmente justo exige a mobilização coletiva e a adoção de uma perspectiva revolucionária. Apenas ao desafiar e superar o sistema capitalista vigente será possível enfrentar de forma efetiva os impactos das mudanças climáticas, garantindo a sobrevivência das gerações futuras e a preservação dos ecossistemas planetários. O enfrentamento da crise climática não é apenas uma questão de sobrevivência, mas uma oportunidade histórica para reimaginar e reconstruir uma sociedade mais igualitária, solidária e sustentável
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] Crédito de carbono: o que é e como eles são comercializados? Disponível em: . Acesso em: 6 jan. 2025.
[2] ECYCLE, E. Geoengenharia: o que é e exemplos. eCycle, , 26 dez. 2024. Disponível em: . Acesso em: 6 jan. 2025
[3] FERNANDA. Do “Capitalismo Verde” à transformação agroecológica: projetos em disputa na crise ambiental. Disponível em: . Acesso em: 6 jan. 2025.
[4] MARX, Karl. O Capital: Crítica da Economia Política. Volume I. São Paulo: Editora Boitempo, 1867.
[5] Mineradora norueguesa tinha “duto clandestino” para lançar rejeitos em nascentes amazônicas. BBC, 23 fev. 2018. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-43162472
[6] PF conclui investigações sobre a origem das manchas de óleo que atingiram o litoral brasileiro entre 2019 e 2020. Disponível em: . Acesso em: 6 jan. 2025.
[7] Por Terra e Território: caminhos da revolução dos povos no Brasil – Joelson Ferreira e Erahsto Felício, Teia dos Povos. Disponível em: . Acesso em: 6 jan. 2025.
[8] UCHÔA, V. “Ninguém quer o que pescamos”: o drama dos pescadores com o petróleo no litoral da Bahia. BBC, 23 out. 2019.
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