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Vitor Peres

Nova base espacial? A descoberta da primeira caverna lunar

Recentemente, uma pesquisa publicada na revista Nature identificou, singularmente, uma caverna no satélite natural terrestre [1]. Intitulado “Radar evidence of an accessible cave conduit on the Moon below the Mare Tranquillitatis pit” (Evidência de radar de um conduto de caverna acessível na Lua abaixo do Poço do Mar da Tranquilidade), o trabalho consistiu numa análise de imagens de radar provenientes do Lunar Reconnaissance Orbiter, espaçonave lançada pela National Aeronautics and Space Administration (NASA), em 2009. No caso, atualmente, esse objeto encontra-se em órbita ao redor da Lua, com o objetivo de observar a presença de recursos como água e futuros espaços de pouso [2].  

Figura 1: Buraco lunar no Mar da Tranquilidade [NASA]


No estudo, foram analisados dados de uma região específica, o Poço do Mar da Tranquilidade, no qual uma série de reflexões de radar foram atribuídas à presença de uma caverna com 130–170 metros de profundidade e 100 metros de largura iniciais, que dão lugar a um extensão ainda desconhecida [1]. Essa descoberta pode vir a exercer um papel crucial no estabelecimento de bases de pesquisa na Lua e acerca do quanto sabemos sobre o astro.

Para nós, a Lua é um objeto de grande destaque, ao qual olhares de observadores ao redor de todo o globo se voltam à noite, considerando seu elevado diâmetro angular (0,5°) e alta magnitude aparente (-12,6 mag). Porém, a relevância desse objeto celeste vai muito além de seus notáveis diâmetro aparente e brilho vistos da Terra.

Figura 2: Lua no céu noturno [3]


Contextualização histórica 


A Lua é o único satélite natural da Terra, sendo o seu nome a classificação dada para uma vasta gama de corpos astronômicos conhecidos pela órbita ao redor de um planeta. A própria denominação “Lua” só foi atribuída ao respectivo corpo próximo da Terra dado que outros satélites naturais somente foram descobertos em 1610, quando Galileu Galilei identificou 4 luas de Júpiter (Io, Europa, Ganimedes e Calisto) através de observações pelo seu telescópio.


Historicamente, a Lua entrou em foco global com o enorme salto desenvolvimentista da indústria aeroespacial durante a Guerra Fria (1947-1991). Em 20 de julho de 1969, por exemplo, Neil Armstrong deu o primeiro passo numa superfície extraterrestre, deixando uma pegada na superfície lunar na região do Mar da Tranquilidade que ainda permanece no local [4].

Figura 3: Pegada de astronauta em primeiro pouso lunar [5]


Essa foi a missão Apollo 11, do programa de mesmo nome da NASA. Desde então, o programa Apollo foi encerrado após 10 anos (1962–1972), contando com cerca de 17 missões, das quais 6 incluíram um pouso lunar [6]. Ademais, é imprescindível atentar-se às evidências recolhidas na Lua e trazidas à Terra, sendo que, além de dados coletados no local, 382 kg de amostras do satélite natural foram retirados pelas missões Apollo [7]. 


Por conseguinte, foi possível conhecer mais sobre o passado do objeto lunar. Dentre as conclusões obtidas quanto à formação da Lua, por exemplo, chegou-se a um grande impacto de um asteroide na Terra associado à origem lunar em detrimento de outras teorias vigentes na época, como à Lua sendo capturada pela atração gravitacional terrestre e a Terra e seu satélite tendo sido formados a partir dos mesmos destroços. Afinal, dois fatores sugerem que a formação lunar foi causada por uma alta colisão de energia: a baixa presença de elementos que vaporizariam quando aquecidos no satélite e uma fundição nos primórdios desse identificada e responsável por levar o astro a ficar coberto por um oceano de lava. Além de outro ponto instigante quanto à composição rochosa semelhante à Terra. Assim, conclui-se que, aproximadamente 4,5 bilhões de anos atrás, Theia, um objeto do tamanho aproximado de Marte, chocou-se contra a Terra, liberando uma quantidade suficiente de destroços para a posterior formação da Lua [7].


Atualidade


Avançando a décadas mais recentes, cerca de 4 países, além dos Estados Unidos, já pousaram algum dispositivo como uma sonda na Lua: a antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), a China, a Índia e o Japão. Nesse âmbito da exploração espacial atual, há a missão Artemis 3, que a NASA está prestes a iniciar a fim de resolver algumas questões ainda em aberto. Para isso, o objetivo é coletar amostras diferentes daquelas das missões Apollo, particularmente em regiões distantes das áreas vulcânicas e do equador lunar, nas quais o programa Apollo realizou seus pousos.


Voltando ao âmbito da nova descoberta, é interessante pensar como nessas novas missões o estudo da caverna pode fornecer amostras geológicas menos afetadas por condições climáticas lunares. Isso traz um maior potencial para evidenciar diferentes aspectos do passado da Lua no Sistema Solar. Além disso, a exploração investigaria uma promissora localização para uma primeira base lunar, considerando os desafios que servem como obstáculos para a ocupação do objeto celeste. Afinal, a ocupação na caverna prevê a atenuação de alguns desses fatores, tais como a radiação solar nociva, o impacto de meteoroides — contra os quais a fina atmosfera do satélite natural terrestre não fornece resistência — e os extremos de temperaturas de -173°C a 127°C. Desse modo, a realização de uma futura colonização lunar seria mais concebível. 







REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAS 



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