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Entre buracos negros e o infinito: a jornada teórica de Hawking

  • Gabrielly Cayres Marques
  • há 7 dias
  • 9 min de leitura

Atualizado: há 1 dia

1. Introdução 

Desde os primórdios da humanidade, o céu tem sido um mistério. O anseio por uma resposta sobre essa vasta imensidão, que desperta tanto temor quanto curiosidade, tem motivado uma verdadeira investigação sobre como tudo se originou. 


Enquanto alguns se apoiam na ideia religiosa da criação bíblica, outros acreditam que tudo surgiu do nada. Mas será mesmo que tudo veio do "nada"? 


Olhar para o cosmo sempre foi, em certo sentido, olhar para dentro de nós mesmos buscando, entre galáxias e mistérios, respostas e perguntas que nos acompanham desde a aurora da razão: de onde viemos? Por que existimos? O que é o tempo? Existe um propósito? 


Este artigo tem como principal objetivo a investigação da busca de Stephen Hawking pela unificação da física. A unificação da física é, no fundo, a busca humana por uma linguagem única capaz de traduzir todos os movimentos e silêncios do universo. É o desejo de encontrar uma melodia que explique por que uma folha cai, uma estrela explode e o tempo corre — como se todos esses fenômenos fossem notas de uma mesma sinfonia cósmica.


Pense assim: a física atual é como um mosaico. Temos peças diferentes — a mecânica quântica, que governa o minúsculo, e a relatividade geral, que rege o gigantesco. Cada uma dessas peças brilha por si, mas quando tentamos encaixá-las, há fissuras, pequenas fraturas na imagem do todo. A unificação seria o momento em que todas essas peças se encaixassem perfeitamente, revelando o desenho completo da realidade.


É como se a humanidade tivesse aprendido dois idiomas para conversar com o universo: o da relatividade, falado pelas galáxias, e o da mecânica quântica, sussurrado pelos átomos. Mas ambos descrevem a mesma história — apenas em dialetos diferentes. A unificação seria a tradução perfeita, uma língua universal que tanto as estrelas quanto as partículas poderiam compreender.


Há também um aspecto quase espiritual nessa busca: é o anseio de compreender o que liga tudo. O que faz o invisível conversar com o visível? O que faz a dança das forças não ser um caos, mas um balé? Encontrar essa resposta seria como descobrir que todas as cordas do universo — do coração humano às supercordas cósmicas — vibram na mesma frequência de existência.


Einstein procurou essa unidade como quem busca o som original do universo, a nota primordial que ecoou antes de tudo. Hawking seguiu o mesmo rastro, acreditando que no fundo do buraco negro e na origem do Big Bang havia a mesma verdade, apenas vista de ângulos diferentes — como luz refletida em espelhos curvados.


Em última instância, a unificação da física não é apenas uma questão científica; é uma questão de poesia cósmica. É o desejo de compreender que as leis que fazem uma maçã cair são as mesmas que fazem as galáxias dançarem — e que, talvez, nós também sejamos parte dessa dança, movidos pela mesma gravidade secreta que une tudo o que existe. Analisando suas principais contribuições, como a radiação de buracos negros, a proposta do universo sem fronteiras e suas ideias sobre a origem de tudo. Muito além das fórmulas e teorias, o que se busca é compreender o impacto de suas ideias sobre a visão de mundo – e de nós mesmos. 


2. A Radiação de Hawking e a gravidade quântica 


A previsão teórica de Hawking, proposta em 1974, afirma que os buracos negros não são completamente "negros", mas emitem partículas devido a efeitos quânticos próximos ao horizonte de eventos, Isto é, a “fronteira” de um buraco negro onde a gravidade é tão forte que nada, nem mesmo a luz, pode escapar. Essa emissão de partículas é conhecida como "radiação Hawking", que se trata sobre a evaporação de buracos negros. Esse tipo de radiação faz com que os buracos negros percam energia e, com a perda de energia, consequentemente, percam massa, causando a evaporação. 


Essa descoberta indicou a conexão entre a mecânica quântica, a termodinâmica e a relatividade geral. No entanto, essa ideia trouxe um grande problema teórico: se os buracos negros evaporam, o que acontece com a informação quântica? Desde o início, o ser humano busca decifrar o idioma do universo. Olhamos para as estrelas como quem tenta ler uma carta antiga, escrita em uma língua esquecida. Durante séculos, acreditamos que o cosmos fosse um relógio: previsível, mecânico, feito de engrenagens invisíveis. Mas a física quântica surgiu como um sussurro que rompeu o silêncio — revelando que, por trás das aparências sólidas, tudo vibra, oscila e se escreve em linguagens de probabilidade. Nesse novo horizonte, a matéria se dissolve em informação. O universo não é apenas feito de átomos, mas de mensagens codificadas em luz e energia. E é dessa percepção que nasce o campo da informação quântica — uma das tentativas mais profundas de compreender não o que o universo é, mas o que ele sabe.


Na física clássica, tudo é definido, sólido, mensurável. Uma bola está aqui ou ali, um planeta segue uma órbita exata, uma causa gera um efeito. Mas o mundo quântico é diferente: nele, uma partícula pode estar em dois lugares ao mesmo tempo, existir e não existir, ser e deixar de ser — até que alguém a observe. Essa dualidade faz da informação quântica uma ciência do invisível. Ela trata cada partícula como um qubit, uma unidade de informação capaz de conter infinitas possibilidades simultâneas. É como se o universo fosse um poema escrito em versos superpostos, e apenas ao ser lido ele escolhesse qual estrofe revelar.


O entrelaçamento quântico — esse elo misterioso entre partículas distantes — é talvez o verso mais belo dessa poesia. Duas partículas, separadas por anos-luz, continuam ligadas por uma espécie de lembrança cósmica. O que acontece com uma afeta a outra instantaneamente, como se compartilhassem um mesmo coração pulsando em lugares diferentes. É o universo nos dizendo que o espaço e o tempo talvez sejam apenas ilusões, e que a informação é o verdadeiro tecido da realidade — algo que ultrapassa as fronteiras do físico e toca o metafísico.


O físico John Wheeler sintetizou isso em uma frase que ecoa como um koan quântico: “It from bit” — o ser nasce do dado. Ou seja, tudo o que existe — matéria, energia, espaço e tempo — é, no fundo, uma expressão de informação. O universo seria, então, uma grande mente cósmica em constante processamento de dados, uma rede viva de significados trocados entre partículas, campos e consciências.


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A informação quântica é mais do que uma teoria científica; é um espelho da própria busca humana por sentido. Quando tentamos entender como o universo “pensa”, acabamos olhando para o modo como nós mesmos pensamos. O mundo deixa de ser um conjunto de coisas e passa a ser uma conversa — uma teia infinita de mensagens trocadas entre tudo o que existe.


Compreender a informação quântica é, portanto, tentar ouvir o idioma primordial do cosmos. É buscar, no meio do ruído das partículas, o som original do universo — aquele que ecoou antes mesmo do Big Bang. E talvez, quando finalmente decifrarmos essa linguagem, perceberemos que não somos observadores externos dessa conversa cósmica. Somos parte dela. Somos informação que sonha, fragmentos conscientes da própria mensagem universal contida neles? Alguns físicos acreditam que tal informação é, na verdade, preservada, embora não esteja tão clara. As ideias de Hawking sobre a emissão de radiação dos buracos negros acabam sendo levadas ao Paradoxo da Informação, que desafia as leis da física, como a conservação da informação. 


Então, qual é o paradoxo? Imagine um livro inteiro com a história de uma vida, sendo cada página repleta de detalhes, lembranças e escolhas. Agora, jogue esse livro em um buraco negro. Pela Relatividade Geral, nada escapa da, ou seja, o livro, as palavras e a história estariam todos perdidos para sempre. Mas a Mecânica Quântica diz, por outro lado, que nenhuma informação no universo pode simplesmente desaparecer. Ela pode mudar de forma, se embaralhar, se tornar irreconhecível, mas jamais ser apagada. Eis o conflito que Stephen Hawking revelou: se um buraco negro evapora lentamente pela sua radiação, para onde vai a informação que ele engoliu? 


Se desaparece, a Mecânica Quântica estaria errada. Se persiste de algum modo, nossa compreensão dos buracos negros ainda é incompleta. 


Esse dilema é chamado Paradoxo da Informação. Mais do que um problema técnico, ele é quase um enigma filosófico, porque faz surgir a dúvida: pode o universo permitir o esquecimento absoluto? 


3. O Universo Sem Fronteiras 


Em 1983, os cientistas Stephen Hawking e James Hartle apresentaram a proposta do universo sem fronteiras, uma das ideias mais ousadas da cosmologia moderna. Diferente da visão clássica do Big Bang, em que o universo teria surgido de um ponto inicial infinitamente denso, essa hipótese sugere algo mais sutil e intrigante. De acordo com ela, o universo não teve um “começo.”


Segundo eles, no instante primordial, o tempo não existia como o conhecemos. Em vez de uma linha cronológica que remonta até um início absoluto, havia uma região em que o tempo se comportava como mais uma dimensão do espaço. Esse conceito, conhecido como tempo imaginário, elimina a necessidade de um ponto de origem abrupto. O universo, portanto, não "explodiu" a partir de um nada, mas emergiu suavemente.


Do ponto de vista matemático, essa proposta nasce da tentativa de unir a Mecânica Quântica à Relatividade Geral - uma versão embrionária daquilo que chamamos de gravidade quântica. Mas, filosoficamente, ela abre um campo de reflexão ainda mais profundo: se o universo não teve fronteira, ele também não exigiu uma "condição inicial" nem uma causa externa para existir. Não precisaria, por exemplo, de uma entidade divina que acendesse a chama da criação. 


Essa ideia confronta a noção humana de causalidade. Nossa mente está habituada a perguntar: "O que veio antes? Quem iniciou tudo?". Mas, no modelo de Hartle e Hawking, essa pergunta perde o sentido, porque não havia nada antes do tempo. O próprio tempo é produto do universo.


Assim, a proposta do universo sem fronteiras não é apenas um exercício de física teórica, mas uma provocação filosófica. Ela sugere que a existência pode ser autossuficiente, que o cosmos não precisa de algo externo para justificá-lo. 


4. A Teoria de Tudo na Visão de Hawking 


Stephen Hawking imaginava que, em algum lugar do universo, existia uma grande fórmula secreta capaz de explicar tudo o que acontece na natureza, desde o movimento das estrelas até o comportamento das partículas minúsculas. Ele chamava essa busca de “Teoria de tudo”. Para Hawking, essa fórmula ainda não tinha sido descoberta, mas ele acreditava que a gravidade quântica, uma ideia que une a Mecânica Quântica com a Relatividade, poderia ser a chave. 


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Hawking também olhou para outras ideias, como a teoria das supercordas e a gravidade quântica em loop– A teoria das supercordas propõe que tudo no universo — partículas, forças e até o espaço-tempo — surge de minúsculas cordas vibrantes. Cada tipo de vibração gera uma partícula diferente, como notas em um instrumento cósmico. Assim, o universo seria uma sinfonia feita de cordas fundamentais, vibrando em dimensões além das que percebemos. Essa teoria busca unificar a relatividade e a mecânica quântica, mostrando que gravidade e matéria são apenas modos distintos de vibração do mesmo tecido essencial.


Já a gravidade quântica em loop segue outro caminho. Em vez de cordas, ela vê o espaço-tempo como uma rede entrelaçada de pequenos anéis de energia que se conectam como uma malha. Essa teia forma a estrutura quântica do próprio espaço, onde o tempo e o espaço deixam de ser contínuos e passam a ser feitos de grãos, como pixels da realidade.


Em essência, as supercordas dizem que tudo vibra, enquanto a gravidade em loop diz que tudo se entrelaça. Ambas tentam revelar o mesmo segredo: que o universo, por trás de suas formas, é pura geometria em movimento. Pareciam caminhos promissores para essa grande unificação. Mas ele sabia que o universo é muito criativo e, às vezes, resistente às nossas perguntas simples. 


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Com o tempo, começou a imaginar que talvez não existisse uma única resposta para tudo. Talvez a verdade fosse como uma família de soluções, diferentes maneiras de explicar o cosmos, todas corretas ao seu modo - uma ideia que se conecta com a noção de multiverso, onde podem existir muitos universos com suas próprias leis. 


Em seu livro O Grande Projeto (2010), Hawking escreveu que não é preciso imaginar Deus acendendo a chama do universo. Para ele, o universo poderia surgir "do nada", guiado apenas pelas leis da física, como se essas leis fossem sementes invisíveis que, sozinhas, conseguem criar mundos inteiros. Filosoficamente, isso nos leva a pensar que o universo não precisa de alguém para começar a história. Ele já carrega em si mesmo as regras do jogo, e a existência é como uma peça de dominó infinita: uma pequena lei física inicia movimentos que se espalham, formando estrelas, planetas e até nós. A beleza dessa visão é que, mesmo diante do mistério e do impossível de ver, tudo segue uma lógica, uma dança silenciosa escrita nas próprias leis do cosmos. 


5. Conclusão 


Stephen Hawking, mesmo enfrentando muitas críticas e discordâncias em relação às suas teorias, especialmente por conta de seu posicionamento ateísta, foi um dos mais criativos e influentes cientistas na tentativa de construir uma teoria capaz de unificar a física. Suas contribuições para a cosmologia e a física teórica foram extremamente relevantes, visto que exploraram os limites da relatividade geral e da mecânica quântica. Sua proposta sobre o universo sem fronteiras, a radiação de buracos negros e sua defesa de um universo autoexplicável moldaram profundamente o debate contemporâneo sobre a origem e o destino do cosmo. 


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Embora a tão almejada “Teoria de tudo” ainda não tenha sido completamente formulada, os caminhos abertos por Hawking possibilitaram que outros cientistas avançassem em essa busca. Assim, servindo também de inspiração para futuras gerações de físicos que desejam compreender de forma mais completa o universo em que vivemos. 


6. Referências 


Hawking, S. W. (1974). Black hole explosions? Nature, 248, 30-31. 

Hawking, S. W., & Hartle, J. (1983). Wave function of the Universe. Physical Review D, 28(12), 2960. 

Hawking, S. (1988). A Brief History of Time. Bantam Books. 

Hawking, S., & Mlodinow, L. (2010). The Grand Design. Bantam Books. 

Greene, B. (1999). The Elegant Universe. W. W. Norton & Company.


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