Nada de Novo Sob o Sol: O Pensamento Antivacina É Tão Antigo Quanto a Vacinação.
- Ronald Américo
- 16 de jun.
- 3 min de leitura

Da vacina contra a varíola às vacinas de mRNA, os argumentos antivacinação não mudaram… apenas ficaram mais altos e dispersos.
Em 2021, com o lançamento das vacinas de mRNA contra a COVID-19, a comunidade antivacinação começou a espalhar desinformação sobre essas vacinas. Isso era esperado. Organizações e indivíduos antivacinação sempre foram rápidos em atacar vacinas. Mesmo com uma nova modalidade (mRNA), não precisaram inventar novos ataques. Parecem apenas ter olhado para a história e copiado/colado seus argumentos.
Por exemplo, Andrew Jeremy Wakefield foi rápido em rotular as vacinas de mRNA como "terapia genética" que alterariam o DNA humano. Você pode lembrar de Andrew pelo artigo fraudulento de 1998 no The Lancet, onde ele e colegas não conseguiram concluir que a vacina MMR (sarampo, caxumba, rubéola) causava autismo. Mesmo assim, Andrew fez uma turnê midiática afirmando que, em sua opinião, a vacina causava autismo e que não a usaria. O estudo foi retraído posteriormente, após ser considerado "fraudulento". Por essa fraude, Andrew foi proibido de exercer a medicina no Reino Unido.
Essa afirmação de Andrew sempre me pareceu estranha, pois ele fez pós-graduação no Reino Unido. Certamente estudou biologia básica. Em algum momento, deve ter aprendido como a síntese de proteínas funciona e que o mRNA não interfere com o DNA. Embora nunca saibamos o que ele realmente sabe, o fato é: vacinas de mRNA não alteram seu DNA.
Curiosamente, esse não é o primeiro uso desse argumento. Na imagem acima, vemos uma caricatura satírica promovida por um grupo antivacinação em 1802. Menos de dez anos antes, Edward Jenner publicou estudos mostrando que a exposição à varíola bovina protegia contra a varíola humana, levando à adoção da vacina no lugar da variolação.
Na caricatura, pessoas exibem deformidades semelhantes a vacas — uma grotesca representação que ressoa com o absurdo já dito por um ex-presidente ao afirmar que 'se tomar a vacina iria virar jacaré'. A insinuação é clara: a vacina contra a varíola bovina transformaria você — ou partes de você — em uma vaca (ou em um réptil, em versões alternativas do mesmo pânico). Afetaria seu DNA, por assim dizer. Sua humanidade seria roubada por essa nova 'vacina'.
São mais de 200 anos das mesmas táticas de medo por pessoas que não entendem vacinas e parecem temê-las. Elas espalham desinformação, gerando medo e confusão. Esse tipo de "liberdade de expressão" é perigoso, pois afasta pessoas de vacinas seguras e eficazes que protegem contra doenças potencialmente fatais. Mentiras como essas privam crianças — que não têm voz na decisão — de uma proteção crucial.

Táticas Recorrentes
A desinformação sobre vacinas e DNA não é a única estratégia usada. Ativistas antivacinação recorrem a outros argumentos:
1. "A imunidade natural é melhor que a vacinal". Aqui, supõe-se que o sistema imunológico diferencia antígenos de vírus/bactérias ativos dos de vacinas. (Antígenos são proteínas ou açúcares em patógenos que desencadeiam resposta imune.) Na realidade, o sistema imunológico reage a qualquer coisa estranha. Estudos mostram que a imunidade vacinal é tão boa quanto a natural. Vacinas menos eficazes (como a da gripe) ainda reduzem a gravidade e duração da doença.
2. "Vacinas não nos salvaram". Analisando dados distorcidos sobre mortes por doenças preveníveis, afirmam que essas doenças já estavam em declínio antes das vacinas. Isso é falso. Gráficos que mostram apenas mortes ignoram os casos. Antibióticos e equipamentos como o pulmão de aço reduziram mortes por doenças bacterianas e pólio, mas os casos só diminuíram após as vacinas.
3. "Vacinas não impedem a propagação de doenças". Com a COVID-19, quando vacinados testaram positivo, ativistas declararam as vacinas inúteis. Errado. Vacinas não são um "escudo" contra patógenos, mas reduzem o tempo entre exposição e resposta imune. Quanto mais rápida a resposta, menor a infecção, a gravidade e o risco de transmissão (menos espirros/tosse = menos vírus espalhado).
E há absurdos: vacinas com chips de rastreamento, pais em "centros de reeducação" por recusarem vacinar filhos, e o clássico: vacinas tornam você magnético.
Como se Proteger?
Primeiro, consulte especialistas para verificar afirmações. Segundo, siga orientações de profissionais de saúde com acesso ao seu histórico médico. Terceiro, olhe para a história: provavelmente, o argumento é reciclado, não novo.
A desinformação é antiga, mas a ciência — e a proteção que oferece — continua valiosa.
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