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Foto do escritor Ryan Santos

DENGUE EM EBULIÇÃO: O BRASIL ENTRE EPIDEMIA E PREVENÇÃO


O Brasil enfrenta uma onda de casos de dengue que coloca em risco a saúde pública do país. As taxas de infecção permanecem altas, apesar dos esforços para conter a propagação da doença. Fatores como condições climáticas favoráveis à reprodução do mosquito Aedes aegypti e falhas no saneamento básico atribuíram-se ao aumento dos casos. Medidas já adotadas incluem campanhas de conscientização, controle químico e biológico do mosquito, e vacinação, mas a persistência da doença levanta questionamentos sobre a eficácia dessas estratégias. Ademais, a expansão urbana desordenada e as mudanças climáticas continuam a contribuir para a situação desafiadora.


Compreender a complexidade da dengue requer uma análise abrangente de seus aspectos epidemiológicos, bem como suas interações socioambientais e políticas. Esses elementos desempenham um papel crucial na propagação e no impacto da doença, ressaltando a necessidade de ações integradas e multidisciplinares. A dengue expõe falhas estruturais na saúde pública, exigindo medidas inovadoras e sustentáveis. A eficiência das estratégias depende do engajamento comunitário e do comprometimento governamental para uma mudança efetiva (Fraga, A, 2024).


Nesse viés, a propagação da dengue no Brasil é influenciada por uma série de fatores interligados. As condições climáticas favoráveis, como temperatura elevada e alta umidade, criam um ambiente propício para a reprodução do mosquito transmissor, o Aedes aegypti. Registros mostram que o mosquito costuma colocar seus ovos em recipientes tais como latas e garrafas vazias, pneus, caixas d’águas descobertas, pratos sob vasos de plantas ou qualquer outro objeto que possa armazenar água de chuva parada. O mosquito pode procurar ainda criadouros naturais, como bromélias, bambus e buracos em árvores (Silva, J; Machado, C, 2018; MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2024).


Conforme explicita o Ministério da Saúde, pessoas do gênero feminino e de etnia parda são as que mais estão sendo contaminadas pela dengue no Brasil. Essa disparidade de gênero e etnia na incidência de casos de dengue no Brasil reflete uma série de fatores socioeconômicos e culturais que influenciam a exposição e vulnerabilidade desses grupos à doença. Historicamente, as mulheres tendem a ter maior contato com os ambientes domésticos e comunitários, onde os criadouros do mosquito Aedes aegypti são mais comuns. Elas muitas vezes desempenham papéis de cuidadoras, o que as coloca em maior proximidade com os possíveis focos de reprodução do mosquito, como recipientes de água parada (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2024).


Além disso, a distribuição desigual de recursos e o acesso a serviços de saúde também desempenham papéis evidentes. Populações de etnia parda frequentemente enfrentam condições de vida mais precárias, com menor acesso a saneamento básico adequado e infraestrutura de saúde. Consequentemente, isso aumenta sua exposição à dengue, por estarem mais suscetíveis a viver em áreas urbanas periféricas, onde as condições ambientais favoráveis à proliferação do mosquito são mais prevalentes (CNS, 2024; Jesus, V, 2020; Santos, R, 2024).


Outro aspecto crucial a ser considerado é a subnotificação de casos, que pode distorcer as estatísticas reais da incidência e prevalência da doença. Mulheres e pessoas pardas tendem a apresentar uma maior probabilidade de buscar atendimento em saúde, o que, por sua vez, pode resultar em uma detecção mais precisa dos casos de dengue em comparação com outros grupos. Em contraste, homens e pessoas de outras etnias podem subnotificar seus sintomas ou evitar a busca por assistência devido a uma série de fatores, como barreiras econômicas, culturais e dificuldades de acesso aos serviços de saúde. Essas diferenças podem levar a uma compreensão desigual da distribuição e impacto da doença na população, destacando a necessidade de abordar as disparidades de acesso à saúde para uma avaliação mais precisa da situação (Jesus, V, 2020; Santos, R, 2024).


Gráfico 1 – Casos prováveis de dengue e os confirmados

Fonte: Ministério da Saúde (2024).


Ao comparar os casos esperados com os casos confirmados, é possível observar uma discrepância significativa que revela desafios na prevenção e no diagnóstico da doença. Os casos esperados são geralmente estimados com base em modelos epidemiológicos que consideram fatores como clima, densidade populacional e histórico de incidência da doença. Entretanto, os casos confirmados muitas vezes divergem dessas projeções, indicando possíveis falhas na vigilância epidemiológica, subnotificação de casos ou variações na transmissão do vírus. Essa disparidade pode ser atribuída a uma série de fatores, incluindo subnotificação de casos leves, diagnóstico inadequado devido à semelhança de sintomas com outras doenças febris, e acesso desigual aos serviços de saúde, especialmente em comunidades remotas ou economicamente desfavorecidas. Desse modo, a análise comparativa entre casos esperados e confirmados não apenas evidencia a complexidade da dinâmica da dengue, mas também destaca a necessidade contínua de aprimoramento dos sistemas de vigilância e resposta para melhor enfrentá-la.


Nos últimos meses, foi observado um aumento significativo nos casos de dengue em diversas regiões do Brasil, incluindo o Sudeste, Centro-Oeste, Sul e Nordeste.  São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Bahia, Paraná, Santa Catarina e Brasília enfrentam problemas para controlar a doença, porque o clima quente e úmido, a população grande e a urbanização rápida criam condições ideais de reprodução para o Aedes aegypti. Em adição, a intensa mobilidade urbana e o fluxo constante de pessoas entre cidades e estados contribuem para a disseminação do vírus, dificultando a contenção da propagação da doença. Outro aspecto a ser considerado é a infraestrutura de saúde sobrecarregada em áreas urbanas, resultando em dificuldades na detecção precoce e no tratamento adequado dos casos de dengue (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2024).



Gráfico 2 – Taxa de contaminação por região do Brasil

Fonte: Ministério da Saúde (2024).


Fonte:Ministério da Saúde (2024).

Além das condições climáticas e dos possíveis criadouros artificiais e naturais mencionados, outros fatores contribuem para a propagação da dengue no Brasil. Entre eles estão o crescimento desordenado das cidades, a falta de saneamento básico em determinadas áreas, o acúmulo de lixo e a falta de conscientização da população sobre a importância de eliminar os focos de reprodução do mosquito. Sendo assim, a mobilidade humana e a urbanização rápida também desempenham um papel significativo na disseminação da doença, facilitando o deslocamento do vírus por meio de viagens e migrações populacionais (Silva, J; Machado, C, 2018).


Nesse viés, a urbanização desordenada e o acúmulo inadequado de resíduos proporcionam locais ideais para a proliferação de mosquitos. Essa combinação de fatores ambientais e de infraestrutura urbana cria um cenário desafiador para o controle eficaz da dengue, exigindo medidas abrangentes e coordenadas por parte das autoridades de saúde e da comunidade em geral. Ações de conscientização pública, manejo adequado de resíduos sólidos e estratégias de controle de vetores são essenciais para mitigar o impacto da doença e reduzir sua incidência (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2024; Silva, J; Machado, C, 2018).


Outrossim, a dengue não se limita a afetar apenas a saúde pública; seu impacto se estende para a economia e o bem-estar social significativamente. Os custos associados ao tratamento da doença sobrecarregam o sistema de saúde, gerando uma pressão adicional sobre os recursos materiais e financeiros disponíveis. A perda de produtividade resultante de casos graves de dengue pode ter um impacto considerável na economia local, afetando negativamente diversos setores e empresas. A frequência irregular no trabalho devido à doença não só prejudica o desempenho individual dos trabalhadores, mas também pode contribuir para um declínio econômico mais amplo em áreas afetadas. Para as famílias afetadas, os custos adicionais e a diminuição da renda devido ao tempo perdido no trabalho tornam mais grave a situação socioeconômica já precária, criando um ciclo de impacto negativo que se estende por toda a comunidade. Assim, enfrentar efetivamente a dengue não apenas requer medidas de saúde pública, mas também exige uma abordagem abrangente que considere seus impactos econômicos e sociais (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2024; Fraga, A, 2024; Santos, R, 2024).


A prevenção permanece como a principal estratégia de combate à dengue no Brasil. A eliminação de criadouros de mosquitos, como recipientes de água parada, pneus velhos e recipientes descartados, continua sendo uma medida crucial para reduzir a reprodução do vetor. O uso de repelentes e outras medidas pessoais de proteção contra picadas de mosquitos também desempenham papéis importantes na prevenção da dengue. Adicionalmente, as campanhas de conscientização pública são essenciais para educar a população sobre as medidas preventivas e os sinais de alerta da doença.  (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2024).


Nesse sentido, apesar dos esforços contínuos no combate à dengue no Brasil, é evidente que ainda se enfrenta uma série de desafios significativos. A resistência crescente dos vetores a inseticidas representa uma preocupação séria, destacando a necessidade de abordagens mais inovadoras e sustentáveis no controle desses vetores. Ademais, a falta persistente de acesso à água tratada em muitas comunidades aumenta a vulnerabilidade dessas áreas à propagação da doença, levantando questões sobre a equidade no acesso aos serviços básicos de saúde pública (Fraga, A, 2024; Santos, R, 2024).


O Sistema Único de Saúde (SUS) enfrenta uma série de desafios que abrangem questões estruturais, financeiras e sociais, refletindo esse cenário. Embora tenha sido concebido como um marco na busca pela universalização do acesso à saúde, o SUS se depara com obstáculos persistentes que comprometem sua plena efetivação. A insuficiência de recursos financeiros representa uma das principais barreiras, impactando diretamente a capacidade do sistema em fornecer serviços de qualidade para todos os cidadãos. Essa falta de financiamento compromete a infraestrutura de saúde e limita sua capacidade de resposta às crescentes demandas da população. Por acréscimo, os desafios logísticos na distribuição de recursos de combate ao vetor também expõem as fragilidades do sistema de saúde e da infraestrutura do país, destacando a necessidade de melhorias significativas nesses setores. (Fraga, A, 2024; Santos, R, 2024).


Nesse viés, avanços significativos alcançaram-se no desenvolvimento de novas abordagens para combater a dengue. O uso de drones para mapeamento de áreas de risco tem se mostrado uma ferramenta valiosa para identificar e monitorar locais propensos à proliferação do vetor, permitindo uma intervenção mais rápida e eficaz no controle da dengue. A pesquisa em vacinas contra a dengue tem avançado consideravelmente, com várias candidatas a vacinas em diferentes estágios de desenvolvimento, como a Qdenga, que foi aprovada pela Anvisa em março de 2023. Ela está sendo distribuída pelo SUS para crianças e adolescentes de 10 a 14 anos nas regiões com maior incidência da doença. A estratégia de vacinação foi anunciada pelo Ministério da Saúde e inicialmente contemplará municípios com alta taxa de transmissão (Cambaúva, D, 2024).


Outrossim, o combate à dengue na Bahia recebeu reforços significativos com a introdução da tecnologia de drones como uma nova estratégia. O Governo do estado iniciou o uso desses equipamentos para identificar focos do mosquito Aedes aegypti em áreas de difícil acesso, contribuindo para o controle da dengue, zika e chikungunya. Em sua primeira semana de operação, coordenada pela Secretaria da Saúde da Bahia em conjunto com o Corpo de Bombeiros, um drone foi utilizado para sobrevoar bairros das cidades no sudoeste baiano. As imagens capturadas pelos drones são cuidadosamente analisadas por agentes de endemias, permitindo a identificação de locais com acúmulo de água parada e potenciais criadouros do mosquito. Essa análise detalhada facilita o trabalho das equipes de controle da dengue, tornando as ações mais eficazes na eliminação dos focos do mosquito (SECRETARIA DA SAÚDE DA BAHIA, 2024).


A secretária de saúde do estado, Roberta Santana, destacou a importância da união de esforços para combater o aumento do número de casos de dengue nos municípios baianos. Ela ressaltou que a máquina estatal tem investido de maneira contínua e significativa no combate à dengue, e que os drones representam mais um recurso importante nessa luta. A capacidade dos drones de fornecer uma visão panorâmica das áreas afetadas e de mapear possíveis focos em locais de difícil acesso é essencial para uma resposta rápida e eficiente. Santana enfatizou ainda a importância da cooperação entre diferentes entidades públicas e a comunidade para enfrentar com sucesso as situações de alerta em saúde pública (SECRETARIA DA SAÚDE DA BAHIA, 2024).


O combate à dengue exige não apenas avanços tecnológicos, mas também uma abordagem integrada e coordenada que envolve diversos setores da sociedade. Isso inclui a colaboração entre o poder público, instituições de pesquisa, organizações não governamentais e a comunidade em geral para implementar estratégias eficazes de prevenção e controle da doença. A participação ativa das comunidades locais é essencial para identificar e eliminar criadouros do vetor, enquanto pesquisas contínuas podem aprimorar as ferramentas disponíveis para combate e tratamento da dengue. Ademais, campanhas de conscientização sobre prevenção, uso de barreiras físicas e aplicação correta de repelentes são fundamentais para envolver a população no combate à dengue. Esse esforço conjunto pode levar a progressos significativos na redução da incidência da doença e à proteção da saúde pública (Fraga, A, 2024). 


Portanto, conforme um estudo realizado pela Universidade Estadual de Londrina, aborda-se a gestão adequada dos resíduos no combate à dengue. Ao analisar o impacto do descarte inadequado de resíduos, especialmente plásticos, na propagação da dengue e outros problemas ambientais, o estudo ressalta a necessidade de ações integradas e a conscientização pública. A pesquisa demonstrou que a remoção de resíduos em áreas de difícil acesso, como jardins e espaços externos de instituições de saúde, são cruciais para prevenir a proliferação do vetor Aedes aegypti. Em adição, ao evidenciar a presença predominante de plásticos entre os resíduos coletados, o estudo sublinha a importância de reduzir o uso de plásticos descartáveis e promover práticas sustentáveis de gerenciamento de resíduos. Esses achados são especialmente relevantes em regiões como o Paraná, onde a dengue representa um desafio significativo para a saúde pública. Ao integrar pesquisas sobre resíduos e sustentabilidade ao combate à dengue, os pesquisadores oferecem uma abordagem holística para enfrentar essa questão complexa (Oliveira, T; et al, 2023).










REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


[1] CAMBAÚVA, D. Entenda como Funciona a Vacina Contra a Dengue Ofertada pelo SUS. Agência Gov, 2024. Disponível em: https://agenciagov.ebc.com.br/noticias/202401/entenda-como-funciona-a-vacina-contra-dengue-ofertada-pelo-sus. Acesso em: 23 abr. 2024.


[2] CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE. Injustiça Ambiental e Racismo: a Urgência de uma Abordagem Equitativa. CNS, 2024. Disponível em: https://conselho.saude.gov.br/ultimas-noticias-cns/3329-injustica-ambiental-e-racismo-a-urgencia-de-uma-abordagem-equitativa. Acesso em: 23 abr. 2024.


[3] FRAGA, A. A juventude e a sua Participação Social: uma Chave para Potencializar o SUS. Jovens Cientistas Brasil, 2024. Disponível em: https://www.jovenscientistasbrasil.com.br/post/a-juventude-e-a-sua-participação-social-uma-chave-para-potencializar-o-sus. Acesso em: 23 abr. 2024.


[4] JESUS, V. Racionalizando o olhar (Sociológico) sobre a Saúde Ambiental em Saneamento da População Negra: um Continuum Colonial Chamado Racismo Ambiental. Saúde e Sociedade, 2020.


[5] SANTOS, R. Problemáticas estruturais do Sistema de Saúde e as Políticas Públicas de Saúde. Jovens Cientistas Brasil, 2024. Disponível em: https://www.jovenscientistasbrasil.com.br/post/problem%C3%A1ticas-estruturais-do-sistema-de-sa%C3%BAde-e-as-pol%C3%ADticas-p%C3%BAblicas-de-sa%C3%BAde. Acesso em: 3 abr. 2024.


[6] SECRETARIA DA SAÚDE DA BAHIA. Governo da Bahia Recorre ao uso de Drones no Combate à Dengue. Bahia: Secretaria de Saúde da Bahia, 2024. Disponível em: https://www.saude.ba.gov.br/2024/02/27/governo-da-bahia-recorre-ao-uso-de-drones-no-combate-a-dengue/. Acesso em: 03 abr. 2024.


[7] SILVA, J; MACHADO, C. Associations Between Dengue and Socio-environmental Variables in Capitals of the Brazilian Northeast by Cluster Analysis. Ambiente & Sociedade, 2018.


[8] MINISTÉRIO DA SAÚDE. Dengue: Diagnóstico e Manejo Clínico: Adulto e Criança. Ministério da Saúde, 2024


[9] OLIVEIRA, T; BELEI, E; CAMARGO, L; SANTOS, L; SOUZA; J; SERAFIM, L; SILVA, V; PEREIRA, S; GRITTI, Y; VAROTTO, R. Ações de Sustentabilidade e Preservação Ambiental para o Combate à Dengue. Semana Integrada de Enfermagem UEL, 2023.



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