top of page

Astrobiologia e Zonas Habitáveis: A Probabilidade de Vida em Exoplanetas Próximos

  • Laís Gomes
  • 27 de fev.
  • 6 min de leitura

A astrobiologia busca entender a origem, evolução e distribuição da vida no universo, com foco na possibilidade de vida fora da Terra, especialmente em exoplanetas. Os astrobiólogos não se limitam a buscar formas de vida baseadas em carbono, como as da Terra, mas consideram também formas alternativas que possam existir em condições extremas ou com bioquímicas diferentes. Ao estudar exoplanetas, um dos principais critérios é a "zona habitável", também conhecida como a "zona de Cachinhos Dourados," é uma região ao redor de uma estrela onde as condições ambientais permitem a existência de água líquida na superfície de um planeta, um fator fundamental para a vida como a conhecemos. Essa definição se baseia em parâmetros como a distância do planeta à sua estrela e a quantidade de energia que ele recebe. No entanto, a definição de zona habitável pode variar de acordo com fatores como a composição atmosférica e a estabilidade climática do planeta. Mesmo dentro dessa zona, a presença de vida não é garantida, pois outros aspectos, como a composição química e a atividade estelar, também são importantes, uma pequena fração dos exoplanetas descobertos apresenta condições potencialmente habitáveis, fatores como a atividade estelar e a composição atmosférica desempenham papéis cruciais na determinação da habitabilidade. Dessa forma, a busca por exoplanetas habitáveis envolve uma análise complexa e multidisciplinar de diversas condições que podem sustentar a vida. 


Ademais, planetas do tamanho da Terra situados na zona habitável de estrelas anãs M enfrentam desafios significativos para sustentar vida devido à intensa radiação ultravioleta (UV) e aos ventos estelares. As estrelas anãs M emitem radiação UV e raios-X em níveis elevados, o que pode ser prejudicial à vida, embora uma atmosfera com ozônio ou um oceano profundo possa proporcionar alguma proteção. Além disso, de acordo com um estudo do CanalTech os ventos estelares podem erodir a atmosfera do planeta, reduzindo sua capacidade de reter calor e proteger a superfície de radiações prejudiciais, diminuindo as chances de habitabilidade. 


Por sua vez, a busca por bioassinaturas, como a presença de oxigênio, metano ou ozônio nas atmosferas de exoplanetas é fundamental para identificar sinais de vida. Telescópios avançados, como o Telescópio Espacial James Webb, permitem a análise detalhada dessas atmosferas, auxiliando na detecção de possíveis bioassinaturas. 


Como as técnicas astrobiológicas modernas e a tecnologia aeroespacial - a espectroscopia de trânsito e a análise computacional de atmosferas - têm sido aplicadas para identificar exoplanetas em zonas habitáveis e detectar bioassinaturas, e como essas abordagens podem impactar o desenvolvimento de novas missões espaciais e métodos para a busca de vida?


Zonas Habitáveis e seu papel na vida humana


A busca por exoplanetas situados em zonas habitáveis é estratégica para a astrobiologia e futuras possibilidades de colonização humana. Estrelas do tipo G (como o Sol) e do tipo K (anãs laranjas) são consideradas as melhores candidatas para hospedar planetas habitáveis devido à sua estabilidade, longevidade e baixa frequência de explosões estelares prejudiciais. Estudos como os apresentados pelo AstroPT e UFAM sugerem que estrelas mais massivas, como as do tipo F (estrelas quentes e brilhantes), possuem zonas habitáveis mais amplas, mas com um tempo de vida estelar reduzido, enquanto as anãs M (estrelas pequenas e frias), embora mais comuns, frequentemente apresentam alta atividade estelar que pode prejudicar a habitabilidade.


Além da localização na zona habitável, os astrobiólogos consideram outros fatores estratégicos na busca por vida extraterrestre. Por exemplo, a detecção de moléculas de água em asteroides, como observado em um estudo recente, sugere que esses corpos celestes podem ser fontes de água para planetas em formação, ampliando as possibilidades de habitabilidade em sistemas planetários.


Esses exemplos ilustram como os astrobiólogos avaliam uma variedade de condições além da localização na zona habitável para determinar a potencial habitabilidade de exoplanetas, considerando fatores como a presença de água e atividade estelar.

 

Elementos Químicos Essenciais para a Vida em Exoplanetas


Figura 1 - (Fonte: “Elementos químicos essenciais para a vida”, Arizona State University, 2020)
Figura 1 - (Fonte: “Elementos químicos essenciais para a vida”, Arizona State University, 2020)

Tendo em vista que a vida no planeta Terravida na Terra é composta majoritariamente por quatro elementos químicos – hidrogênio, carbono, oxigênio e nitrogênio –  A Astrobiologia ajuda a evidenciar como esses  elementos são fundamentais para a formação de moléculas orgânicas complexas, como proteínas e ácidos nucleicos. Esses compostos químicos estão associados à construção de estruturas celulares e aos processos metabólicos fundamentais para os organismos vivos.


Além disso, elementos como fósforo e enxofre são cruciais para a formação de biomoléculas e mecanismos de armazenamento de energia, como o ATP (adenosina trifosfato). A detecção desses elementos em atmosferas de exoplanetas pode ser feita por meio de espectroscopia, utilizando telescópios avançados como o James Webb. Moléculas como oxigênio e metano, quando detectadas em desequilíbrio químico, podem ser indicadores potenciais de bioassinaturas, ou seja, sinais de atividade biológica.


Metodologia para encontrar Exoplanetas habitáveis


Figura 2 - (Fonte: “Zonas Habitáveis”, AstroPT, 2016)
Figura 2 - (Fonte: “Zonas Habitáveis”, AstroPT, 2016)

1. Seleção de Estrelas-Alvo:

Priorizar estrelas do tipo G (Como o sol) e K (Mais frias), devido à sua estabilidade e zonas habitáveis propícias. Essas estrelas permitem longos períodos para o desenvolvimento da vida. A seleção das estrelas é baseada em dados de catálogos estelares como o da missão Gaia. 


2. Detecção de Exoplanetas:

Detectar variações periódicas no brilho de uma estrela causadas pela passagem de um planeta. Esse método é eficaz para determinar o tamanho e a órbita do planeta.


3. Velocidade Radial:

Medir pequenas oscilações na velocidade da estrela, causadas pela interação gravitacional com o planeta, para calcular sua massa.


 4. Caracterização Física e Química:

Determinar a densidade do exoplaneta para diferenciar planetas rochosos de gigantes gasosos. Analisar atmosferas planetárias por espectroscopia, buscando moléculas como água, oxigênio, dióxido de carbono, metano e amônia.


5. Modelagem das Condições Ambientais:

Utilizar modelos climáticos para prever a temperatura superficial, a composição atmosférica e os ciclos químicos. Essas simulações consideram variáveis como o albedo (reflexão de luz) e a atividade estelar.


6. Avaliação das Condições do Sistema:

Determinar a influência de planetas vizinhos e da presença de cinturões de asteroides. Considerar os efeitos de raios cósmicos e ventos estelares sobre a atmosfera do exoplaneta.


Aplicando essa metodologia, conseguimos priorizar exoplanetas como Kepler-452b, que orbita uma estrela semelhante ao Sol e apresenta características próximas às da Terra. No entanto, estudos indicam que planetas ao redor de estrelas anãs M, como TRAPPIST-1e, são menos favoráveis devido à intensa radiação estelar e ventos solares que podem remover atmosferas finas.


Além disso, a detecção de bioassinaturas, como a coexistência de oxigênio e metano em atmosferas exoplanetárias, foi um marco no desenvolvimento de novas missões espaciais. Estudos da NASA, por meio do Telescópio Espacial James Webb, destacam a importância de observar exoplanetas próximos, estudar exoplanetas próximos, como os do sistema Proxima Centauri, é fundamental para aprofundarmos nosso entendimento sobre o próprio planeta Terra. Esses exoplanetas oferecem a oportunidade de traçar comparações diretas entre as condições ambientais, atmosféricas e geológicas de outros mundos e as da Terra, ajudando-nos a compreender melhor como os fatores que sustentam a vida em nosso planeta podem ser replicados em outros lugares do universo.


O sistema Proxima Centauri como exemplo citado acima, que está a apenas 4,24 anos-luz de distância, contém um exoplaneta na zona habitável de sua estrela, o que significa que ele poderia ter as condições necessárias para sustentar água líquida — um dos principais ingredientes para a vida como conhecemos. 


Além disso, a busca por exoplanetas semelhantes à Terra nos leva a explorar a possibilidade de "terraformação", ou seja, a modificação de um ambiente extraterrestre para torná-lo habitável para os seres humanos. A observação desses exoplanetas pode fornecer pistas sobre os recursos e os desafios envolvidos nesse processo. Por exemplo, aprender sobre a composição atmosférica e a presença de água pode ser um passo importante para planejar a adaptação de seres humanos a um novo ambiente, caso a Terra se torne inabitável em um futuro distante.


Figura 3 - (Fonte: “Um ranking das novas terras”, UOL, 2014)
Figura 3 - (Fonte: “Um ranking das novas terras”, UOL, 2014)

Considerações Finais


A identificação e caracterização de exoplanetas em zonas habitáveis representam avanços significativos para a astrobiologia e para o entendimento do lugar da Terra no universo. Planetas com atmosferas ricas em elementos CHON e orbitando estrelas estáveis são os mais promissores para a habitabilidade.


No entanto, desafios permanecem, como a influência da atividade estelar e a limitação tecnológica para estudar exoplanetas distantes. Futuras pesquisas devem focar em técnicas mais sensíveis para detecção de bioassinaturas e modelagem mais precisa das condições atmosféricas. Investir no desenvolvimento de telescópios espaciais e colaborativos entre agências internacionais será essencial para expandir nosso conhecimento sobre a vida fora da Terra.

 

 


 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


[1] TIAN, Feng; IDA, Shigeru; NETTELMANN, Nadine; IKOMA, Masahiro. The UV environment for planetary habitability and atmospheric evolution around FGKM stars. arXiv, 2023. Disponível em: https://arxiv.org/abs/1707.02996. Acesso em: 23 jan. 2025.


[2] REINERS, Ansgar; BASRI, Gibor; BARNES, Rory et al. Probability of habitability for exoplanets in M-dwarf systems. arXiv, 2024. Disponível em: https://arxiv.org/abs/2405.05115. Acesso em: 23 jan. 2025.


[3] VIDA más allá de la Tierra: teoría propone que existe vida en el universo. Huffington Post, 2025. Disponível em: https://www.huffingtonpost.es/sociedad/vida-mas-alla-tierra-teoria-propone-existe-vida-universo-hpe1.html. Acesso em: 23 jan. 2025.


[4]  MOSTRADOR. Qual a importância da zona habitável? Disponível em: https://omostrador.com.br/qual-a-importancia-da-zona-habitavel/?utm_source=chatgpt.com. Acesso em: 23 jan. 2025.



[6]  TEMPO.COM | METEORED. Encontrado CO2 e metano em um exoplaneta: essas moléculas poderiam indicar sinais de vida, James Webb Space Telescope. Disponível em: https://www.tempo.com/noticias/actualidade/encontrado-co2-e-metano-em-um-exoplaneta-essas-moleculas-poderiam-indicar-sinais-de-vida-james-webb-space-telescope.html?utm_source=chatgpt.com. Acesso em: 23 jan. 2025.


[7] GALERIA DO METEORITO. NASA anuncia descoberta de 1.284 novos planetas. Disponível em: https://www.galeriadometeorito.com/2016/05/nasa-anuncia-descoberta-de-1284-novos-planetas.html. Acesso em: 23 jan. 2025.


[8]  EL UNIVERSAL. Exoplanetas: características e investigação. Disponível em: https://www.eluniversal.com.mx/articulo/ciencia-y-salud/ciencia/2015/08/9/exoplanetas-caracteristicas-e-investigacion/. Acesso em: 23 jan. 2025.


[9]  CIÊNCIA HOJE. A química da vida. Disponível em: https://cienciahoje.org.br/artigo/a-quimica-da-vida/. Acesso em: 23 jan. 2025.

 





Posts Relacionados

Ver tudo
PARA PERMANECER ATUALIZADO, INSCREVA-SE!

© 2023 by Jovens Cientistas Brasil.

bottom of page