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  • Vitor Peres

Mitologia nórdica e seu impacto no mundo contemporâneo

Na história, os mitos representam a primeira forma pela qual o ser humano dá sentido ao mundo. Dentre as mais diversas narrativas, encontram-se os mitos nórdicos. Traçando suas origens aos atuais países de mesmo nome, a principal fonte para essas estórias é a obra “Edda”, seja poética ou em prosa.


Nesse âmbito, um importante nome a se considerar é o de Snorri Sturluson (1179-1241), estudioso irlândes que compôs a Edda em prosa. Nessa obra, é marcante a influência cristã na medida em que Snorri considera os deuses nórdicos pagãos como imigrantes de Tróia (evemerismo); afinal, considerando a cristianização islandesa aproximadamente 200 anos antes, havia uma necessidade de justificar a antiga adoração a outras divindades, cujas histórias eram transmitidas oralmente e através de imagens talhadas. 


Conforme os séculos foram passando, a mitologia nórdica passou por um processo de revalorização, principalmente no século XIX, com a reescrita de suas narrativas em alemão, inglês e escandinavo, assim como na ligação desses povos pela mesma mitologia que possivelmente teriam, devido a descoberta de um ancestral comum às suas línguas. A partir do no século XX, veio o nazismo junto à defesa da supremacia ariana, segundo a qual a mitologia nórdica era um meio de conectar os alemães do período aos louros de olhos azuis escandinavos, tornando assim, os mitos nórdicos mais uma forma de propagação da ideologia racista.


Entretanto, a influência dessas narrativas está longe de se restringir apenas nesse aspecto recente. Não podemos somente identificar nomes de deuses nórdicos nos dias da semana, como por exemplo, “Thursday” (quinta-feira em inglês) o qual refere-se ao dia do Thor, mas como também as lendas nórdicas possuem um grande impacto na maneira que a humanidade pensa nesse período contemporâneo, conforme esclarecido por Carolyne Larrington em The Norse Myths That Shape The Way We Think (Myths That Shape The Way We Think, 2)


Em segundo plano, nas bases da narrativa nórdica, há um elemento central: a árvore denominada “Yggdrasil”, a qual sustenta todos os seus 9 mundos, onde habitam diferentes seres, desde elfos da luz em Álfheim até mortos em Hel. Além disso, o vegetal abriga uma gama diversa de animais, sendo crucial preservá-lo a fim de garantir a manutenção do ecossistema e do próprio cosmos onde todos os seres vivem. Em analogia à era da atualidade, é certo que o dever do ser humano com o cuidado do meio ambiente se torna um aspecto essencial para a conservação da natureza, uma vez que, dadas as circunstâncias que vemos vivenciando, a preservação do meio natural torna-se cada vez mais difícil. 


Figura 1 - Representação da Yggdrasil



Dentro de um desses 9 mundos, Asgard, habitam os Aesir, deuses do ramo principal, incluindo Odin, Loki e Thor, em que cada um possui sua própria influência na atualidade.  A começar por Odin, atrelado à sabedoria, magia, batalha e reino, ele é o líder dos deuses e dono de Valhalla, Salão dos Mortos, local para onde os mortos em luta vão e representa uma espécie de mundo mágico. Com mulheres (valquírias) servindo os homens num hall cheio de bebidas e brigas cujas mortes são seguidas por ressurreições, tal ambiente retrata a expectativa por um paraíso que muitos esperavam e esperavam encontrar após a morte.


Outro aspecto interessante de Odin é a sua busca pelo conhecido, principalmente naquilo que tange o Ragnaröck, evento precedido por uma série de males que culminam numa grande batalha que marca o fim dos tempos, seguido de um renascimento, no qual há uma alusão a um recomeço após um suposto fim. Assim, é relevante ressaltar também como Odin chega até a se enforcar buscando maior sabedoria, sendo um paralelo à contemporaneidade na questão dos limites éticos na busca pelo conhecimento. 

Em relação a Loki, filho de um deus e uma giganta, é notável sua sexualidade polimorfa. O deus é, ao mesmo tempo, pai de três seres místicos e mãe de vários humanos que pariu durante um período em Midgard, o mundo dos humanos. Assim, conclui-se que a mitologia nórdica se torna uma narrativa a frente de seu tempo, visto que a inclusão da transexualidade é um tema de grande relevância no mundo moderno. 


Figura 2 - Loki


Finalmente, Thor, filho de Odin e deus do clima, mar, campos e plantações, se tornou um grande símbolo de heroísmo tanto nos quadrinhos, como nas recentes produções cinematográficas da Marvel. No caso, a cultura pop abriga uma série de outras obras com um embasamento evidente nos mitos nórdicos. Na narrativa construída por J. R. R. Tolkien que é completada por seu filho, Christopher Tolkien, existem diversos traços nórdicos, como, por exemplo, a história de Sigurd/ Siegfried , matador do dragão Fáfnir, a qual serve de inspiração ao embate entre Túrin e Glaurung em Os Filhos de Húrin, bem como no encontro de Bilbo e Smaug em O Hobbit. Além do fim da Primeira Era em O Silmarillion com uma enorme batalha, semelhante ao Ragnarök, evento ao qual o Longo Inverno da série Game Of Thrones, inspirado nos livros de George R. R. Martin, também remonta através da ameaça de destruição de Westeros, continente onde se passa a história, pelos Outros, seres semelhantes a zumbis.


Em suma, é imprescindível reconhecer o papel dos mitos nórdicos no modo de como os seres humanos pensam e na criação de diversas histórias conhecidas por diversas pessoas ao redor do globo, visto que, seja na preservação do meio ambiente ou no filme Thor: Amor e Trovão, a mitologia nórdica reclama um importante papel na atualidade.







REFERÊNCIAs BIBLIOGRÁFICAS



[1] GAIMAN, Neil. Norse Myths. Bloomsbury Publishing, 2020.


[2] LARRINGTON, Carolyne. The Norse Myths That Shape the Way We Think (Myths That Shape the Way We Think, 2). Thames & Hudson, 2023.


[3] LARRINGTON, Carolyne. The norse myths: A guide to the gods and heroes. Thames & Hudson, 2017.







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