Resumo
O texto aborda a epidemiologia e suas divisões — endemia, epidemia e pandemia —, destacando a emergência da sindemia. Ademais, explora como fatores sociais influenciam a saúde e ressalta a importância da vacinação contra doenças. Uma reflexão atual e relevante sobre saúde pública e negacionismo.
Palavras-chave: Endemia, Epidemia, Pandemia, Sindemia, Dengue, Covid-19, Saúde
Introdução
A epidemiologia é o estudo da distribuição e dos determinantes de doenças e condições de saúde na população, buscando prevenir e controlar problemas de saúde. Essa análise funciona por meio de coleta de dados e análise estatística, podendo criar divisões para certas ocorrências, como as dinâmicas das doenças, e podendo variar de forma local e global.
Dessas divisões se destacam três bastante conhecidas: Endemia, Epidemia e Pandemia. Esses termos já se tornaram comuns no cotidiano das pessoas, sendo corriqueiro ouvi-los nos jornais, principalmente após a pandemia de Covid-19. Inclusive, esse é um dos grandes motivos pela conscientização de grande parcela da sociedade a respeito do estudo das doenças.
Contudo, as classificações não param por aí: a epidemiologia avança e se une a várias outras áreas do conhecimento. Por exemplo, com a colaboração das Ciência Sociais, a Epidemiologia pode englobar novos fatores e avançar seus estudos, assim surgiu o termo “Sindemia”, que estuda como a situação social e econômica pode agravar os problemas de saúde da população.
Todas essas categorias são de extrema importância para o quadro atual. Isso torna-se evidente ante à crescente nos casos de dengue reportados no Brasil. Segundo reportagem do portal UOL, “O rápido surto de dengue no Brasil em 2024 já se transformou em epidemia em seis estados e obrigou 17 municípios a declarar emergência de saúde pública.” O cenário da dengue, que era endêmico, passou a se tornar epidêmico. Para explicar isso melhor, o texto a seguir explorará a origem e a relação entre os termos.
Endemia
A origem etimológica da palavra “endemia” vem do grego antigo. Trata-se de uma derivação de "en" (ἐν), que significa "dentro", e "demos" (δῆμος), que significa "povo" ou "população", formando “endemos”, referindo-se ao “povo interno [a uma área]”. Portanto, é possível entender que a endemia se trata de algo local, que afeta apenas uma determinada região.
Mais profundamente, percebe-se que esse nome se refere a uma doença que afeta determinada região (um país, por exemplo) de forma recorrente. Muitas das vezes, isso ocorre em épocas específicas do ano, sem aumentos significativos na quantidade de pessoas afetadas pela enfermidade. Uma forma simples de ilustrar é o gráfico a seguir:
Figura 1
O gráfico é formado por picos e quedas recorrentes, isso mostra a constância de casos de certa doença em um local específico do mundo. Essa mesma constância é a que explica um certo controle sobre os cenários de alta, já que pela longa vivência, já são criadas formas de prevenção e de tratamento para que isso não assole a população em escala descontrolada.
Portanto, era possível classificar a dengue no Brasil como uma endemia, pois desde o final do século XX, a dengue se instaurou no país e aqui continuou, tendo suas altas no verão, principalmente na época que as chuvas param, já que as ocorrências de água parada aumentam. Entretanto, o quadro geral saiu do controle: de uma endemia, a dengue passou a ter um caráter epidêmico.
Epidemia
A palavra "epidemia" também tem sua origem etimológica no grego antigo. É formada pela combinação de duas palavras gregas: "epi" (ἐπί), que significa "sobre" ou "acima", e, como já sabem, "demos", que significa "povo" ou "população". Formando "epidemos" (ἐπίδημος), refere-se a algo mais geral, que afeta além do povo.
À primeira vista, endemia e epidemia parecem ser a mesma coisa, mas são coisas completamente diferentes com dinâmicas em escalas completamente diferentes. A epidemia se caracteriza pelo aumento nos casos de determinada doença em várias regiões, mas sem afetar em nível global. Essa pode, até mesmo, surgir a partir de uma endemia que se descontrola, como é o caso da dengue atualmente.
Figura 2
No gráfico usado para ilustrar dessa vez, é perceptível uma certa estabilidade seguida se uma crescente. Nesses casos, a epidemia se torna mais trabalhosa de se conter, já que é algo inesperado, podendo acarretar em uma quantidade grande de enfermos e até de mortes. Por isso é necessária a propaganda pela prevenção de doenças, pois mesmo que muitas doenças pareçam controladas, é difícil prever a expansão de uma região menor, como um país, para uma região maior, como um continente.
Pandemia
Como as últimas, a palavra "pandemia" tem sua origem etimológica no grego antigo. Deriva das palavras gregas "pan" (πᾶν), que significa "todos" ou "todo", e "demos", "povo". Juntas, essas palavras formam "pandemos" (πάνδημος), que se refere a algo que atinge um todo, em escala global.
Diferente das outras duas, é difícil a comparação com a pandemia, já que essa ameaça atinge inúmeros países ou continentes. O exemplo mais recente é a pandemia do Coronavírus, que resultou em milhões de mortes. Esse evento trágico normalmente surge de uma epidemia que passa a afetar diversos países e continentes pelo globo terrestre.
Figura 3 - Covid-19 Casos e Óbitos
Pandemias podem afetar tanto a saúde, quanto a economia, mas no caso recente, foi perceptível uma grande disparidade social entre as classes prejudicadas. Muitas empresas grandes lucraram mais ainda durante esse período, enquanto os trabalhadores e pequenos empresários saíram no prejuízo. Além disso, a maior parte dos prejudicados por toda a situação da Covid-19 eram pessoas de baixa renda e minorias sociais, que já viviam em situações precárias e vivem da venda da força de trabalho. Esse fenômeno precisava ser explicado, e foi por isso que surgiu a Sindemia.
Sindemia
O termo “Sindemia” (Syndemic) foi cunhado pelo antropólogo Merrill Singer. É uma aglutinação das palavras do grego “synergos”, a qual significa “sinergia”, e a já conhecida “demos”. Assim, forma-se, em inglês, “Syndemic”(Sindemia).
Como o nome indica, a ideia por trás desse estudo diz respeito à sinergia que duas doenças podem ter, causando danos muito maiores do que deveriam. Várias condições — como doenças infecciosas e doenças crônicas não transmissíveis —, quando combinadas, são agravadas por motivos socioeconômicos como pobreza, subnutrição e acesso limitado a cuidados de saúde, tornando os problemas de saúde mais complexos e difíceis de tratar.
“O impacto dessa interação também é facilitado pelas condições sociais e ambientais que, de alguma forma, aproximam essas duas doenças ou tornam a população mais vulnerável ao seu impacto” (Singer)
Especialistas da área da saúde como Richard Horton, ou até mesmo o próprio Merrill Singer, já afirmaram diversas vezes como o Coronavírus afeta de forma mais grave pessoas com doenças não transmissíveis, como diabetes, hipertensão, obesidade ou doenças respiratórias crônicas. Todavia, o problema é que as doenças não transmissíveis são fortemente negligenciadas em áreas mais pobres da sociedade. Dessa maneira, sem o tratamento adequado, os vírus como o SARS-CoV-2 e outras doenças se tornam muito mais prejudiciais à saúde dessa população vulnerabilizada.
Ou seja, toda essa área de pesquisa trata de como fatores “externos” estão intrinsecamente ligados a problemas de saúde. Dessa forma, explicita-se como endemias, epidemias e pandemias podem ter seus impactos aumentados, dependendo da condição social de um indivíduo ou de uma parcela da sociedade.
Conclusão
Toda a situação atual do Brasil apresenta um grave problema de saúde pública do país. Ainda assim, existe outro problema tão grande quanto os últimos citados: o negacionismo. Desde o ano de 2020, difundiram-se muitas ideias negacionistas, principalmente envolvendo a vacinação. Pessoas públicas incentivando que crianças não tomem as doses requeridas para frequentar o ambiente escolar é um dos maiores exemplos recentes.
Uma grande parcela de brasileiros negam a ciência, mas não sabe que a ciência existe e deve ser usada para o povo. O ato de prevenção contra doenças é incontornável, as vacinações estão entre as maiores invenções dos últimos tempos, são elas que vão permitir que todos tenham o direito fundamental de viver.
Nos dias atuais, existem diversas vacinas que, até pouco tempo, não existiam. A vacina da dengue, por exemplo, já é um grande passo. Claro, a demanda atual não atende toda a população, mas assim que tiver chance, todo brasileiro deveria garantir sua imunidade. Toda pessoa do mundo tem que ter a iniciativa de se imunizar, contra o máximo de doenças possíveis. Seguir os cartões de vacinação é de extrema importância, é um bem realizado, ao mesmo tempo, a si e ao próximo.
À vista disso, a luta contra o negacionismo ainda é de constante importância, pois, uma vez que se nega a ciência, despreza-se a inteligência de diversas pessoas que gastaram a vida para os avanços atuais. Previna-se, tome suas vacinas, propague conhecimento ao invés de achismos. Incentive a saúde, incentive a ciência.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
[1] Redação. Dengue: Brasil enfrenta epidemia e estados declaram emergência em municípios. UOL Saúde. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2024/02/10/dengue-brasil-epidemia-estados-emergencia-municipios.htm. Acesso em: 10 mar. 2024.
[2] Butantan. Entenda o que é uma pandemia e as diferenças entre surto, epidemia e endemia. Disponível em: https://butantan.gov.br/covid/butantan-tira-duvida/tira-duvida-noticias/entenda-o-que-e-uma-pandemia-e-as-diferencas-entre-surto-epidemia-e-endemia. Acesso em: 10 mar. 2024.
[3] Sanar. Epidemia, Endemia e Pandemia: seus significados e suas diferenças. Disponível em: https://www.sanarmed.com/epidemia-endemia-e-pandemia-seus-significados-e-suas-diferencas-colunistas. Acesso em: 10 mar. 2024.
[4] Singer, Merrill. Entrevista concedida à BBC News Mundo. "'Covid-19 não é pandemia, mas sindemia': o que essa perspectiva científica muda no tratamento" BBC News Brasil. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-54493785. Acesso em: 13 mar. 2024.
[5] Horton, R. (2020). Offline: COVID-19 is not a pandemic. The Lancet, 396(10255). https://doi.org/10.1016/S0140-6736(20)32000-6
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