Constelações: Objetos de Céu Profundo e Desenvolvimento
- Vitor Peres
- 20 de jun.
- 6 min de leitura
Atualmente, a União Astronômica Internacional (UAI, ou IAU conforme sigla original em inglês), sociedade científica de destaque internacional fundada em 1919, com mais de 12.000 membros ao redor do globo, reconhece 88 constelações no céu visto da Terra. Cada uma delas com suas estrelas, objetos de céu profundo (DSO) e asterismos (padrões de estrelas no céu que geram formas aludindo a animais, objetos etc.). Especificamente, os DSO são corpos celestes, diferentes de estrelas, localizados fora do sistema solar. Entre eles, podem ser citados os objetos incluídos no catálogo Messier, New General Catalogue e Index Catalogue, cujos componentes são referenciados pela nomeação inicial M, NGC e IC, respectivamente, seguidas de um número.
![Figura 1: Objetos Messier posicionados em relação às constelações da UAI [4]](https://static.wixstatic.com/media/1b23c9_b9c492a502354373ae79e218b52a8ca5~mv2.png/v1/fill/w_813,h_407,al_c,q_85,enc_avif,quality_auto/1b23c9_b9c492a502354373ae79e218b52a8ca5~mv2.png)
Quanto aos corpos incluídos nos catálogos mencionados, há galáxias de diferentes tipos, como espirais, elípticas, irregulares e lenticulares. O reconhecimento da classe da galáxia observada pode ser feito, rapidamente e preliminarmente, avaliando-se o seu formato. A notória galáxia que pode colidir com a Via Láctea em um futuro distante, isto é, a Galáxia de Andrômeda (M31) situada na constelação de mesmo nome, por exemplo, é uma galáxia espiral, caracterizada pelos braços em torno de uma área central comum ao tipo. Da mesma maneira, a galáxia M101, Galáxia do Cata-Vento, localizada na constelação da Ursa Major (Ursa Maior, em porguês), apresenta a mesma classificação. Sua imagem, vinda do Telescópio Espacial Hubble (HST), pode ser vista abaixo.
![Figura 2: Galáxia elíptica de M101 [5]](https://static.wixstatic.com/media/1b23c9_3fa51acacd994872b1949a7211941320~mv2.png/v1/fill/w_479,h_374,al_c,q_85,enc_avif,quality_auto/1b23c9_3fa51acacd994872b1949a7211941320~mv2.png)
Outro tipo de objeto incluído nos catálogos são os aglomerados estelares, regiões com diversas estrelas unidas pela gravidade. Dividem-se os aglomerados em abertos e fechados levando em conta a quantidade de estrelas, sua idade, o formato do agrupamento etc. As Plêiades, a exemplo de um dos aglomerados mais famosos, consistem em um aglomerado aberto caracterizado por estrelas jovens, em menor quantidade que a outra classe e em um formato irregular. Especificamente, o agrupamento em questão é chamado de M45 e faz parte tanto da constelação quanto do asterismo de Taurus (Touro, em português).
![Figura 3: Asterismo da constelação de Touro [6]](https://static.wixstatic.com/media/1b23c9_6ce28df6ba5548079c163cc033669b8e~mv2.png/v1/fill/w_521,h_366,al_c,q_85,enc_avif,quality_auto/1b23c9_6ce28df6ba5548079c163cc033669b8e~mv2.png)
A constelação representada acima faz parte de um conjunto de constelações que compõem uma faixa percorrida pelo Sol em seu movimento anual no céu como consequência da translação da Terra ao redor da estrela: a faixa do zodíaco. São 12 as constelações zodiacais existentes: Aries, Taurus, Gemini, Cancer, Leo, Virgo, Libra, Scorpius, Sagittarius, Capricornus, Aquarius e Pisces, que, traduzidas do latim para o português, correspondem a Áries, Touro, Gêmeos, Câncer, Leão, Virgem, Libra, Escorpião, Sagitário, Capricórnio, Aquário e Peixes. Atualmente, essa faixa celeste ganha destaque na determinação dos signos dos indivíduos, representando uma informação importante para o ramo não científico da astrologia.
Historicamente, o registro de constelações pode ser encontrado há aproximadamente 17.300 anos, nas cavernas de Lascaux, conhecidas pelo seu vasto número de artes rupestres, na França. Já o desenvolvimento das primeiras constelações é atribuído aos povos da Mesopotâmia. Quanto à nomeação mais antiga a um astro identificado, o mérito vai para os sumérios, reconhecidos como um dos primeiros povos a terem uma civilização na região da Mesopotâmia. O objeto nomeado foram as Plêiades pelo termo “Mul-Mul” ou “As estrelas”, em português. Posteriormente, povos de outras localidades no hemisfério norte também fizeram as suas contribuições. Entre eles, destacam-se os gregos Hiparco de Niceia (190-125 a.C.) a quem é creditado avanços como a determinação do sistema de coordenadas geográficas (latitude e longitude) e Claudio Ptolomeu (100-178), responsável pelo “Almagesto”, obra valiosíssima como resumo do conhecimento astronômico até o período, reunindo 1028 estrelas em 48 constelações.
![Figura 4: Constelações presentes no Almagesto [3]](https://static.wixstatic.com/media/1b23c9_7a80a459086148de96bb167b5a431e86~mv2.png/v1/fill/w_506,h_380,al_c,q_85,enc_avif,quality_auto/1b23c9_7a80a459086148de96bb167b5a431e86~mv2.png)
A mitologia grega, inclusive, chegou a ser considerada a gênese de grande parte do nome das estrelas e constelações antes de outros critérios serem levados em conta. As próprias Plêiades apresentam 7 estrelas de destaque conhecidas como “as sete irmãs”, filhas de Atlas (titã condenado por Zeus a sustentar o céu pela eternidade) e Pleione. Na obra “Catasterismos” de Eratóstenes de Cirene (276-195 a.C.), por exemplo, embora as fontes do trabalho do sábio grego sejam desconhecidas, a origem das constelações é explicada em consonância com os mitos gregos.
É relevante citar que as posições das estrelas no céu, muitas vezes descritas por sistemas de coordenadas celestes, não são fixas e variam continuamente por fatores como a precessão da Terra, movimento circular de rotação do eixo de rotação da Terra. Em vista disso, as coordenadas dadas em mapas apresentam um rigor aceitável dentro de uma faixa de trinta a cinquenta anos, de modo às fontes de informações antigas aqui discutidas apresentarem certas discrepâncias em relação ao céu atual.
Inicialmente, o estudo do céu era majoritariamente a respeito do hemisfério norte, onde as sociedades mencionadas viviam. Somente com as Grandes Navegações (séc. XV-XVII) e um número maior de navegações rumo ao sul, as constelações da UAI nessa área foram adicionadas ao conhecimento da época. Johannes Bayer (1572-1625) ganhou notoriedade nesse contexto pela adição de 12 novos asterismos com a sua obra “Uranometria”, um dos atlas celestes mais belos até os dias de hoje. O astrônomo alemão também estabeleceu a denominação das estrelas conforme a constelação a qual pertencem e sua luminosidade, indicada por uma letra do alfabeto grego. Partindo de alfa até ômega, salvo exceções, as estrelas são indicadas por ordem decrescente de luminosidade. Retomando a figura 3, que apresenta a constelação de Touro, o astro mencionado, Aldebarã, é Alfa Tau ou Alfa Tauri, sendo Tau a abreviação do nome da constelação e Tauri o genitivo, normalmente usados nessa nomenclatura.
Outro objeto de observação poderia ser Crux (Cruzeiro do Sul, em português), reconhecida pela facilidade com que permite localizar o Polo Celeste Sul, extensão do Polo Sul Terrestre na esfera celeste (esfera imaginária na qual os objetos celestes estariam distribuídos), pelo prolongamento da haste maior do asterismo do Cruzeiro 4,5 vezes. Ademais, essa constelação está presente na bandeira do Brasil e a sua estrela mais brilhante é a Alfa Cru, também chamada de Acrux ou Estrela de Magalhães, situada próxima à Nebulosa do Saco de Carvão, outro tipo de objeto de céu profundo: as nebulosas (nuvens de poeira e gás).
![Figura 5: Parte de carta celeste centrada no Cruzeiro do Sul [1]](https://static.wixstatic.com/media/1b23c9_26d05382e222475087851d562aef8880~mv2.png/v1/fill/w_494,h_301,al_c,q_85,enc_avif,quality_auto/1b23c9_26d05382e222475087851d562aef8880~mv2.png)
O estudo das constelações abrange, essencialmente, um entendimento das regiões do céu e suas fronteiras. Tendo isso em vista, torna-se interessantíssimo conhecer não somente a constelação de Crux individualmente, mas também a sua localização entre as “patas” da constelação de Centaurus (Centauro, em português) com as apontadoras do Cruzeiro: Alpha Centauri e Beta Centauri. Além da Musca (Mosca, em português) e Carina (Quilha, em português), situadas nas proximidades.
Conforme os séculos passaram, mais e mais estudiosos conquistaram renome nesse campo, bem como houve um avanço nos meios tecnológicos, com telescópios que tornaram-se capazes de identificar qual objeto seria um Messier, por exemplo, obtendo-se uma descrição mais precisa do observado.
Em meio a esse panorama de avanços científicos, é imprescindível mencionar como diferentes culturas podem apresentar diferentes constelações. Dadas as especiais utilidades da observação do céu, como para identificar períodos férteis, diversos povos desenvolveram um certo estudo do céu, que não são inferiores às constelações aqui apresentadas, mas somente fora da homogeneização promovida atualmente.
Assim, se por um lado, antigamente as constelações serviam de orientação para a atividade agrícola e náutica (as próprias Plêiades, por exemplo, serviam de marco para o início e final do período de navegação entre os gregos), hoje elas adquirem novas perspectivas. Astronomicamente, as constelações servem de indicação nas direções no Universo e no reconhecimento do céu. Além disso, a história ganha material na análise do surgimento das constelações e a troca de informações entre diferentes povos, especialmente para a determinação dos primeiros a ter registros do céu. Nesse sentido, até os humanos pré-históricos devem ser levados em consideração já que constelações como a de Touro foram semelhantemente retratadas tão antigamente quanto em Lascaux.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] CARAVIELLO, Thiago. Guia de apoio para reconhecimento do céu. Disponível em: https://drive.google.com/drive/folders/187tsHqvR3Zy6hTsMHE2dgsmllUzNeDP7. Acesso em 26 Jan. 2025
[2] About IAU. International Astronomical Union. Disponível em: https://www.iau.org/administration/about/. Acesso em 26 Jan. 2025
[3] SILVA, Gil Alves. Uranografia: a história das constelações. Trabalho de conclusão de curso (Bacharelado em Astronomia)-Observatório do Valongo, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2003. Disponível em: https://pantheon.ufrj.br/handle/11422/17795. Acesso em 28 Jan. 2025
[4] File:MessierStarChart. Wikipedia Disponível em: https://en.m.wikipedia.org/wiki/File:MessierStarChart.svg. Acesso em 02 Fev. 2025
[5] NASA, ESA, K. Kuntz (JHU), F. Bresolin (University of Hawaii), J. Trauger (Jet Propulsion Lab), J. Mould (NOAO), Y.-H. Chu (University of Illinois, Urbana) and STScI; CFHT Image: Canada-France-Hawaii Telescope/J.-C. Cuillandre/Coelum; NOAO Image: G. Jacoby, B. Bohannan, M. Hanna/NOAO/AURA/NSF Disponível em: https://science.nasa.gov/universe/galaxies/types/. Acesso em 02 Fev. 2025
[6] COSTA, Fernando. A Constelação de Touro. UFMG - Observatório Astronômico Frei Rosário, 2009. Disponível em: http://www.observatorio.ufmg.br/dicas-de-observacao/a-constelacao-de-touro/a-constelacao-de-touro.html. Acesso em 03 Fev. 2025
[7] DA SILVA, Edna. As constelações. Planetário - UFSC, 1999. Disponível em: https://planetario.ufsc.br/as-constelacoes/#:~:text=Atualmente%20as%20constela%C3%A7%C3%B5es%20n%C3%A3o%20possuem,Estrelas%20brilhantes%20como%20Canopus%20. Acesso em 03 Fev. 2025
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