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Como as escolas falham com as mulheres?

  • Foto do escritor: Cecília Gurgel
    Cecília Gurgel
  • 8 de nov. de 2023
  • 3 min de leitura

O Ensino Fundamental - cujo nome é dado justamente por ser necessário a todas as pessoas - tem como uma de suas principais propostas preparar os alunos para a vida. Desse modo, é inegável que as ciências são essenciais entre os conhecimentos básicos de qualquer estudante. São elas que explicam sobre doenças, dietas e o próprio corpo humano - ensinamento extremamente importante para os adolescentes que logo se tornarão adultos. Mas o que deveria estar sendo prioridade de ensino nas instituições, tornou-se ineficaz em se provar útil na realidade de meninas de todo o país devido ao medo da sociedade em falar sobre a saúde feminina.


Em tese, o currículo escolar exigido pelo Ministério da Educação (MEC) dita que o aluno tenha seu ensino básico de Orientação Sexual. Contudo, nas salas de aula esse tópico é tratado de forma rasa ao abordar a realidade de como é viver como uma mulher. A hipocrisia sobre o assunto já é conhecida há bastante tempo, pois há muito fala-se do desconforto da sociedade em abordar termos como “menstruação” ou “vagina”. Porém, poucos parecem entender que a comodidade em evitar tais palavras surge desde o ensino das crianças sobre a temática.


Uma das formas em que esse incômodo é mais notável, é ao ver-se o modo como o assunto é abordado nos 5º e 6º anos escolares, onde as meninas, que logo entrarão na puberdade, são apresentadas ao que acontecerá em seus corpos. Entretanto, diversas mulheres já afirmaram que esse tema não as preparou para a realidade. Afinal, a escola normalmente aborda o tópico da menstruação dizendo que um ciclo menstrual feminino costuma durar 28 dias, onde o período de sangramento ocorre durante cerca de cinco; porém a realidade pode ser bem diferente. Na verdade, a menstruação, em todos os seus aspectos, varia para cada mulher: algumas podem ter ciclos instáveis, onde os intervalos entre sangramento sempre mudam; outras podem ter um fluxo alto; enquanto algumas podem nem sofrer de cólicas ou dores menstruais, mas terem Tensões Pré Menstruais (TPM’s) violentas. Entretanto, estes detalhes não são contados às meninas, que precisam descobrir na prática o que está acontecendo em seus organismos, muitas vezes sem ter apoio de ninguém ao fazê-lo.


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Outro aspecto pouco explorado é o do órgão reprodutor das mulheres. Durante todos os anos escolares, os alunos são forçados a aprender sobre os mais variados aspectos da Biologia. Desde a função da glândula uropigiana, até o significado de angiosperma, os estudantes aprendem sobre seus corpos e como eles realmente funcionam. Mas, então, por que isso é tão falho às meninas?


A questão também se encontra na descomodidade da sociedade no tópico “ser mulher”. Afinal, os discentes aprendem sobre todos os órgãos do sistema genital masculino, onde especificam quais são os internos e os externos, mas nada é abordado sobre o genital feminino em si. Tudo o que é aprendido resume-se ao útero e como ele funciona no período gestacional, o que leva muitos estudantes a nem entender realmente o que é uma “vagina”, ou ao menos saber que uma mulher possui órgãos externos na genitália, sendo que os nomes de cada um, às vezes, nem são mencionados em livros escolares.


O pior de tudo talvez seja que, ao não abordar temáticas sobre a saúde feminina, muitas escolas também deixam de dar atenção a importantes doenças que podem acometer as mulheres e seu sistema reprodutor. Ou seja, as meninas ficam desorientadas quando alguns dos sintomas aparecem e, por não terem ideia do que pode estar acontecendo com elas, acabam sofrendo em silêncio.


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A questão principal é: mas por que há esse desconforto e de onde ele surgiu? A resposta se encontra simples: no machismo. A verdade é que, em uma sociedade que diz procurar mais dias ser igualitária, o sexismo começa na vida das mulheres desde cedo, ao serem afirmadas pela sociedade que a menstruação é um tabu, algo reforçado pelo pobre ensino do tema. Por isso, milhares de meninas têm vergonha do que acontece em seu corpo, por vezes tendo medo dos seus ciclos por não saber o que realmente está ocorrendo em seu sistema reprodutor. Então, até quando a sociedade continuará colocando meninas em silêncio pelo simples medo de uma palavra? Até quando as meninas terão de ser obrigadas a sentir vergonha das mudanças em seu corpo? Não é possível saber, mas é claro que a mudança irá começar apenas quando as escolas pararem de falhar em ensinar o que realmente é ser uma mulher.

2 comentários


mclaralves2
08 de nov. de 2023

Mais que necessário!!! 💪🏾💪🏾

Editado
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gonzagaraul384
08 de nov. de 2023

Mais um choque de realidade triste, mas necessário, da escritora Cecília

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