A epidemia da AIDS repercute até hoje como um marco na história das epidemias e na história LGBTQIAP+. Assim, para além da sua relevância histórica e social, é fundamental compreender sua trajetória no mundo do ponto de vista biológico. Atualmente, é apontado que a AIDS, abreviação para Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, surgiu do SIV, vírus vindo da África Central que ataca o sistema imunológico dos macacos.
Figura 1: representação do AIDS
A partir da caça no continente, organismos humanos entraram em contato com o micro-organismo, o que levou ao desenvolvimento do HIV, origem da IST (Infecção sexualmente transmissível). No caso das Américas, a disseminação do vírus HIV se deu em grande parte a partir das ilhas caribenhas. Provindo da África Subsaariana, região mais atingida pela doença, a AIDS alastrou-se posteriormente a países como Haiti, República Dominicana e Jamaica.
Esses lugares, onde muitos homens LGBTs encontravam os chamados “paraísos gays”, desempenharam um grande papel na disseminação da AIDS para os Estados Unidos e demais países americanos e europeus por diversos motivos. Alguns são: a migração de trabalhadores do sexo masculino, muitas vezes portadores do vírus HIV e em situação de marginalidade, entre os EUA e as ilhas caribenhas; as redes de sociabilidade homossexual, como bares e boates, que criaram um ambiente de maior exposição e risco de transmissão do HIV; a discriminação e o estigma em relação a AIDS e a falta de políticas públicas de protoctologia. Acima de tudo, a falta de informações dos profissionais e legisladores da época sobre a doença foi o seu maior fator de disseminação.
Os principais sintomas da AIDS são: dores ou inchaço na região genital, manchas na pele, febre e diarreia. Para diagnosticá-la, há um teste laboratorial no Centro de Referência em Treinamento em IST/AIDS ou um exame de sangue especializado chamado Elisa, no qual há coleta de sangue ou fluido oral.
Figura 2: exame de sangue “Elisa”
Apesar da simbologia do HIV estar atrelada às relações sexuais desprotegidas, sua transmissão também pode se dar verticalmente - da mãe para o feto durante a gravidez, parto ou amamentação - e por instrumentos contaminados que entram em contato com o sangue tal como durante a tranfusão de sangue ou até mesmo agulhas. Dessa forma, como métodos de prevenção temos: o uso de camisinha durante a relação sexual, a utilização de seringas descartáveis e a realização do teste em gestantes e em pessoas que acreditam ter contraído o vírus.
Com o avanço da ciência, é possível desenvolver um tratamento efetivo no seu controle, já que ainda não é possível curá-la. O uso de medicamentos antirretrovirais são capazes de impedir a multiplicação do vírus HIV, os quais além de evitar o enfraquecimento do corpo humano, tem sido o maior aliado dos portadores da AIDS. O vírus da doença não mata por si só, mas sim as deficiências imunológicas que acompanham o diagnóstico não tratado adequadamente. Ao atacar primordialmente os linfócitos T CD4+, células importantes do sistema imune, o vírus torna-se capaz de alterar o DNA dessas células, assim fazendo cópias de si mesmo dentro delas. Logo, depois de se multiplicar, ele rompe os linfócitos em busca de outros para continuar a infecção, levando a uma supressão contínua do sistema imune. Aos poucos, o sistema de defesa perde a capacidade de responder adequadamente, fazendo do corpo infectado mais vulnerável a doenças.
Apesar dessa IST não ser tão comentada hoje em dia, é imperativo o contínuo cuidado. Em uma pesquisa realizada em 2018 pelo Ministério da Saúde, a taxa de infecção do vírus HIV triplicou jovens entre 15 a 19 anos, sendo que um a cada quatro homens que fazem sexo entre eles no município de São Paulo detém HIV. Isso pode se dar por diversos motivos, dentre eles a falta de campanhas preventivas, a redução do uso da camisinha e as mudanças comportamentais relacionadas ao uso de aplicativos para o encontro com parceiros sexuais, que podem acarretar um maior número de parceiros e de relações vulneráveis. De acordo com Lígia Kerr, professora da Universidade Federal do Ceará (UFC), os jovens estão iniciando as suas vidas sexuais sem a educação sexual adequada e sem lembranças a respeito da aids, já que não viveram esse momento de epidemia, fato que se reflete no aumento de casos de HIV nessa faixa etária.
Durante os anos 80, a AIDS tornou-se um surto em diversos países no mundo, incluindo o Brasil. Para a realidade LGBTQIAP+, isso significou um momento de grande fragilidade e negligência social. A homofobia no geral ganhou contornos violentos relacionados à instrumentalização do HIV a partir do processo de exclusão e desumanização. Com isso, a AIDS tornou-se uma representação social relacionada a “peste gay”, como muitas vezes era veiculada nos jornais, e promiscuidade, levando a mortes em massa por afastamento da saúde e um aumento do preconceito.
Figura 3: manifestação da “peste gay” no jornal “Luta Democrática”
No entanto, o Brasil foi pioneiro no tratamento da AIDS durante a sua epidemia, tendo iniciado seu tratamento amplamente em 1985. Com a criação do SUS (Sistema Único de Saúde) em 1988, foi possível implementar o programa nacional de controle da AIDS.
Figura 4: criação e aprovação do SUS durante a Constituição Federal de 1988.
Em 1996, iniciou-se a distribuição gratuita do coquetel antiaids para todos que necessitavam do tratamento, sendo crucial para a universalização do acesso à saúde para os portadores do HIV. Por fim, graças ao diagnóstico precoce e ao tratamento adequado, o Brasil também se destacou em termos de redução da mortalidade relacionada à infecção. Por outro lado, segue sendo fundamental ressaltar as marcas que essa epidemia deixou na sociedade. Somente em 2020 houve a liberação para a doação de sangue para pessoas LGBTs, algo antes impedido em grande parte devido ao estigma da AIDS e pela marginalização da comunidade gay. Além disso, o aumento de número de casos em populações que antes não eram de risco, como os adultos heterossexuais com mais de 50 anos que têm deixado de usar preservativos por tipicamente não estarem mais em idade fértil, elucida a necessidade de continuarem existindo campanhas de prevenção e conscientização, as quais salvaram muitas vidas no passado e podem continuar fazendo-o no futuro.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
[1] Qual é a origem da Aids? Disponível em: <https://www.nationalgeographicbrasil.com/ciencia/2022/11/qual-e-a-origem-da-aids>. Acesso em: 12 ago. 2024.
[2] Aids / HIV. Disponível em: <https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/a/aids-hiv>. Acesso em: 12 ago. 2024.
Em São Paulo, 1 a cada 4 homens que transam com homens tem HIV, revela estudo – Agência AIDS. Disponível em: <https://agenciaaids.com.br/noticia/em-sao-paulo-1-a-cada-4-homens-que-transam-com-homens-tem-hiv-revela-estudo/>. Acesso em: 12 ago. 2024.
[3] HIV/Aids. Disponível em: <https://www.saude.pr.gov.br/Pagina/HIVAids>. Acesso em: 12 ago. 2024.
[4] Prefeitura de São Paulo. Disponível em: <https://www.capital.sp.gov.br/w/noticia/conheca-os-grupos-mais-vulneraveis-ao-hiv>. Acesso em: 12 ago. 2024.
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