O ser humano é, atualmente, cercado por energia elétrica. O dispositivo no qual você está lendo este artigo, o alarme que te acorda de manhã, até mesmo o fogão que faz sua comida; tudo movido à eletricidade. Mas, quem nunca se perguntou o que é isso que move o mundo moderno? Aquilo que gerou tamanha revolução capaz de levar o homem a tecnologias, números e locais jamais esperados antes. Aquela energia que fez tanto em tão pouco tempo.
A jornada do homem com a eletricidade começou no século XVIII, através do aparelho desenvolvido pelo cientista inglês Francis Hauksbee. A Máquina Elétrica de Hauksbee, como foi chamada, foi a primeira máquina capaz de gerar eletricidade dentro de um laboratório. Seu funcionamento iniciava ao girar uma manivela conectada a uma esfera com apenas vácuo dentro; esse instrumento criava um atrito e gerava energia, que não era trocada com o ar pois este estava isolado fora da bola, e, ao entrar em contato com a mão no exterior do recipiente, resultava em uma tensão (diferença de cargas) que criava pequenas faíscas de eletricidade.
Ela foi um choque para a sociedade da época, que não acreditava que este tipo de energia poderia ser exibida fora da natureza. A invenção ajudou não apenas na criação e desenvolvimento de outros experimentos (era sempre usada para gerar a eletricidade necessária), como foi responsável pela faísca de curiosidade que se espalhou pelo mundo, inspirando outros cientistas a estudarem a fascinante energia elétrica.
O próximo a seguir seus passos foi o cientista Stephen Gray. Ele criou o famoso experimento: um menino se deitava em dois balanços de madeira pendurados por uma corda de seda e eletrizava-se ao tocar na máquina; depois, ele estendia sua mão em direção a alguns pedaços finos de ouro, que eram atraídos para si pela força elétrica.
Esse experimento permitiu que Gray afirmasse que havia como separar a matéria em duas divisões: condutores (como o menino e o ouro) e isolantes (como a corda de seda que não deixou a energia passar por ela, concentrando-a no garoto). Tal descoberta foi essencial para que os estudiosos entendessem sobre a natureza e comportamento da eletricidade, e como eles poderiam utilizá-la em seu favor.
Essas máquinas, entretanto, foram se popularizando de tal maneira, que as classes altas de toda a Europa começaram a pedir excitadamente por demonstrações dessa engraçada energia que lhes dava choques e faziam seus cabelos flutuarem.
Foi, justamente, em busca de fazer demonstrações desse tipo, que o cientista neerlandês Pieter Van Musschenbroek teve interesse em armazenar a carga elétrica. Ele acreditava que a eletricidade funcionava como a água (fluída), então encheu uma garrafa de vidro com H2O e colocou, dentro do recipiente, um fio ligado a uma máquina de Hauksbee, tampando-o. Colocando-a em cima de um material isolante, ele girou a manivela do mecanismo e tentou eletrizar o líquido, sem obter sucesso.
Um dia, porém, ele repetiu o processo, mas, dessa vez, segurando a garrafa na mão, pois esqueceu-se do material isolante e, quando colocou a mão no topo do vidro, que possuía uma esfera de metal, levou um grande choque. Horrorizado, ele desistiu de sua tentativa e nunca procurou uma explicação para o ocorrido.
Porém, um famoso cientista americano ficou extremamente curioso com esta máquina criada por Musschenbroek. Benjamin Franklin é conhecido ao redor do mundo pelo seu curioso experimento com a pipa em meio à tempestade, embora isso nunca tenha acontecido de fato. A verdade é que ele ergueu, em meio a chuva, raios e trovões, um poste de metal mergulhado em uma garrafa de Leyden (como ficou conhecida a invenção do neerlandês), que dava choques em quem a segurava. Ele percebeu que, como a garrafa possuía uma grande quantidade de cargas concentradas em seu interior, ao se colocar a mão em contato com o vidro (isolante), o processo de indução iria concentrar partículas também no outro lado do recipiente, o que geraria, ao fechar o circuito (encostando uma outra mão na esfera de metal no topo da garrafa) os choques observados em seu experimento.
Entender esse acontecimento foi de uma importância imensurável para a ciência. Essa garrafa não apenas foi uma máquina imprescindível para o desenvolvimento de outros projetos, como sua evolução, o Capacitor, é o mais próximo que o ser humano possui de um armazenamento de energia - procura, esta, que está desafiando os maiores filantropos da atualidade.
Mesmo essa máquina sendo uma invenção certamente revolucionária, não dava todas as respostas que o homem queria sobre a eletricidade. Na mesma época, por exemplo, pensava-se que a eletricidade só podia ser gerada a partir de faíscas, o que decaiu numa grande confusão quando se descobriu o peixe Tremelga, que tinha a habilidade de soltar altos choques naturalmente. Pensando nisso, o britânico Henry Cavendish decidiu conduzir um experimento criando seu próprio peixe artificial com duas garrafas de Leyden enterradas na areia, que davam choques uma vez que tocadas. Ele, então, concluiu que a diferença entre o peixe inventado e o peixe real era a intensidade do choque (depois atribuído à carga elétrica) e a diferença de potencial (conhecida como tensão), pois o peixe Tremelga possuía uma carga alta, mas uma tensão menor. Já o peixe do experimento possuía alta tensão, mas uma carga menor.
Entender o que é tensão e como ela gera o movimento de cargas elétricas (corrente elétrica) é primordial para entender como introduzir a energia elétrica no cotidiano humano. Essa compreensão, incrivelmente, foi gerada a partir da rivalidade entre dois cientistas italianos.
Luigi Galvani afirmou que os movimentos dos animais vinham através de uma eletricidade mandada do cérebro pelos nervos para o resto do corpo. Para comprovar isto, utilizou uma rã morta e conectou dois metais juntos a ela, o que imediatamente gerou um movimento do animal. Ele criou, então, a teoria da “eletricidade animal” que afirmava que a carga elétrica era criada pelos bichos e conduzida pelos metais, como os que entraram em contato com sua rã.
Com a intenção de contradizer o inimigo, Alessandro Volta recriou o seu experimento em laboratório utilizando diversos metais diferentes. Ele observou que, ao conectar os diferentes materiais, a intensidade da reação era variada, e, quando se utilizava dois metais iguais, nem mesmo havia reação. Devido a essas observações, o cientista italiano afirmou que, o que gerava a eletricidade, era a diferença dos elementos dos metais condutores, não o animal.
Ainda, não bastava isso para acabar com Galvani, então ele foi além: Volta construiu um dispositivo que intercalava dois metais diferentes e um disco encharcado com salmoura, repetindo os materiais e ligando cada extremidade da invenção com um fio condutor. Esse dispositivo, quando ativo, incentivava a contínua troca de elétrons pelos discos, gerando o que o italiano descobriu ser uma corrente elétrica.
Esta invenção tem um nome bem conhecido atualmente: a pilha, aquela fonte de tensão que faz todos os seus dispositivos elétricos ligados. Isso permitiu que a energia fosse, a partir daquele momento, totalmente elétrica, ao invés de mecânica, chegando ao cotidiano da vida humana e revolucionando o mercado.
Desde então, diversas descobertas, evoluções e invenções foram criadas no ramo da eletricidade. O que começou como uma máquina de faíscas evoluiu para uma pilha de metais e uma nova era da humanidade. As descobertas, porém, não acabaram, e agora é certo que a vida humana tenha sua história escrita junto com a da eletricidade. Talvez seja possível, finalmente, armazenar energia ou descobrir novos super condutores postos em maiores temperaturas. O que importa é que a História da eletricidade não acabou, e ainda virá muito pela frente.
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