“Meu cérebro é mais do que algo meramente mortal, e o tempo mostrará isso”
Algumas pessoas tiveram ideias que fizeram seus nomes entrarem para os livros de ciência ou de história. Elas tiveram suas mentes para sempre conservadas além de seus corpos mortais, sendo para sempre lembradas por serem geniais ou revolucionárias. Uma delas é Ada Lovelace, matemática que inventou a programação, possibilitando os feitos de grandes figuras, como Steve Jobs, Bill Gates e Alan Turing; aquela que revolucionou o desenvolvimento da tecnologia, enquanto também era escritora, mãe e mulher em uma sociedade extremamente machista.
Que Ada era uma gênia é um fato, mas o que chama muita atenção na sua história é que seus pais também tinham, eles mesmos, mentes brilhantes. Nascida na Inglaterra do início do século XIX, ela era filha da matemática Anne Isabella Byron e do famoso escritor e romancista Lord Byron. Mas sua vida em família não era exatamente feliz e fantástica.
O casamento dos Byron era uma união arranjada e recheada de traições, ódio e amargura, o que o levou a um fim precoce. Quando Ada tinha apenas 5 semanas, seu pai a abandonou e se mudou para a Grécia, deixando-a aos cuidados da mãe. Anne sentia tanta raiva dele que apenas permitiu que Ada visse a figura dele aos 20 anos, em forma de um retrato, 12 anos depois de seu falecimento.
Entretanto, foi justamente essa raiva e esse abandono que levou Ada a ser a grande cientista que ela foi: sua mãe, forçada a cuidar dela sozinha, a fez estudar intensamente—especialmente lógica matemática—com a esperança de que sua filha teria uma vida diferente da do pai. Apesar de Anne ter sido extremamente rígida, foi aí que Ada encontrou sua paixão pelos números e pelo estudo.
Criada do encontro entre criatividade e poesia, por parte do seu pai, e lógica e matemática por parte de sua mãe, Ada apresentou-se desde criança como uma pessoa extremamente criativa, inteligente e analítica. Com apenas 12 anos, escreveu o livro “Flyology”, onde ela imaginava as diversas formas de fazer uma máquina voar, e as ilustrava inspirada nos pássaros que gostava de observar.
Aos 17 anos, Ada mudou o rumo do seu futuro para sempre ao conhecer a fascinante cientista Mary Sommerville, que virou sua tutora e amiga. Ela a levava a jantares com outros cientistas, inventores e figuras importantes da época, e foi em um desses eventos que Ada conheceu Charles Babbage, que discutiu com ela uma ideia revolucionária que tinha.
Ada ficou extremamente fascinada pela descrição que o matemático fez de sua Máquina Diferencial, um dispositivo que possuía a função de analisar números polinômios (expressão algébrica com mais de um termo/monômio) e reduzir erros matemáticos. Ada demonstrou-se muito interessada e ofereceu-se a ajudar no projeto, mas o inventor recusava as suas propostas incessantemente.
Babbage seguiu com suas ideias e desenvolveu o projeto de uma Máquina Analítica, parecida com a Diferencial, mas capaz de realizar cálculos mais difíceis de forma automática, o que futuramente seria considerada a primeira concepção de um computador na história. Em uma de suas palestras sobre o assunto, o cientista italiano Luigi Frederico Menabrea ficou tão interessado que escreveu um artigo sobre o projeto. Mas Charles encontrou-se precisando de alguém capaz de traduzi-lo para o inglês, e foi aí que lembrou de uma jovem que estava mais do que disposta a ajudar o seu trabalho.
Se antes Babbage não via a genialidade da jovem, agora sua visão certamente mudaria. Ada, na época já casada e mãe, prontamente aceitou a tarefa e, apesar de estar doente, não só traduziu o artigo como também adicionou suas próprias notas e pensamentos sobre o assunto. O artigo ficou o triplo de seu tamanho original, e teve que ser dividido em sessões de A a G, contendo diversas ideias, dentre elas sugestões de que a máquina poderia ser usada para produzir músicas complexas, gráficos precisos e ser utilizada tanto para desenvolvimento prático como científico. Não apenas isso, mas a sessão G hoje é conhecida como o primeiro algoritmo do mundo, e foi o responsável por dar a Ada o título de primeira programadora da história.
Com apenas 36 anos, Ada morreu de câncer de útero. Deixou no mundo três filhas, o primeiro programa de computador e as ideias de sua mente brilhante. De smartphones a um simples controle-remoto, o fato é que a sua invenção foi definitiva para criar o mundo como é conhecido hoje, uma vez que a sociedade atual gira em torno da programação. Sem suas ideias, a tecnologia, as revoluções e toda a história contemporânea seria completamente diferente do que se conhece.
Hoje ela é reconhecida como a mulher revolucionária que foi. A segunda terça-feira de Outubro é atualmente conhecida como o “Dia de Ada Lovelace”, data utilizada para celebrar e encorajar as mulheres na ciência. Ada é um símbolo para todas as garotas que querem ser cientistas, matemáticas ou inventoras e que são julgadas e negadas apenas pelo seu sexo. Ela é um símbolo de superação, devido à sua terrível infância, transformando o seu sofrimento em combustível para trabalhar no que amava.
O desejo de sua mãe foi definitivamente cumprido. Ada não é lembrada por ser filha de Lord Byron ou apenas pelos seus poemas, mas sim pela sua mente brilhante e sua vontade de saber, pois hoje Ada Lovelace é e será eternamente conhecida como a mulher que mudou o mundo.
Referências:
Biografia Unicamp: http://www.ime.unicamp.br/~apmat/ada-lovelace/
Biografia The Hack: https://thehack.com.br/conheca-ada-lovelace-matematica-do-seculo-xix-autora-do-primeiro-programa-de-computador/
10 curiosidades Revista Galileu: https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/Curiosidade/noticia/2018/02/10-fatos-sobre-ada-lovelace-que-farao-voce-admira-la-ainda-mais.html
Explicação Máquina Diferencial e Analítica: https://www.tecmundo.com.br/historia/16641-charles-babbage-um-cientista-muito-alem-de-seu-tempo.htm
Créditos da primeira imagem: https://www.linguahouse.com/pt/esl-lesson-plans/general-english/ada-lovelace
Créditos da segunda imagem: https://sistemas.riopomba.ifsudestemg.edu.br/meninasdigitais/?p=292
Realmente, Ada Lovelace foi uma pessoa singular na história. Gostei, muito interessante👏