Com sentidos políticos, econômicos e sociais que vieram através de países emergentes, o mundo presenciou uma constante ascensão que teve seu início oficial em 16 de junho de 2009: A criação do BRIC, um grupo de países compostos por Brasil, Rússia, Índia e China, o qual futuramente viria a ser BRICS+, adicionando a África do Sul, Egito, Etiópia, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Irã. Em contraponto a isso, uma sombra pairava em ares do mundo todo, uma dominância sem igual que prevalecia durante anos. Tal sombra tinha uma composição espessa, com extrema soberania contida em cada mínima partícula que a constitui: assim se apresenta o G7, com resultados em importantes mudanças no modo de funcionamento do Banco Mundial, do FMI e de outras organizações internacionais.
De acordo com o contexto fornecido anteriormente, o G7, criado oficialmente em 1975, composto por Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Canadá, esteve no constante controle da geopolítica mundial, os quais controlavam os setores tecnológico, armamentista, comercial, econômico e territorial, dando forte ênfase em toda a sua hegemonia geopolítica vigente. Entretanto, um pouco mais tarde, por volta da década de 1990, o mundo presenciou uma quebra de expectativas em todos os aspectos que eram de controle maioral do grupo de 7 países, levando a um descontentamento internacional a respeito das grandes potências tradicionais, em destaque os Estados Unidos da América. Visto isso, a sombra que até então cobria o mundo, começou a ser afetada por um brilho que, a cada dia que se passava, crescia ainda mais. A partir disso, começou a existir uma demanda por ordem internacional, em que nesse contexto as potências tradicionais não conseguiram articular novos paradigmas que pudessem responder aos desafios apresentados, o que abriu espaço para a ação de novos atores no sistema internacional.
A partir disso, com um agregamento no ano de 2008, através da crise financeira dessa data, semelhante a crise de 29, houve uma confirmação do descrédito da liderança americana e europeia em termos econômicos, estimulando então um processo de competição internacional por parte das potências centrais norte-atlânticas com os países emergentes, de modo a afetar o núcleo central do sistema financeiro global, gerando desconfiança não apenas no sistema financeiro internacional como também na liderança americana para organizar esse sistema, como consequência. Dado esse contexto, um despertar político global estava em andamento, baseando-se em uma nova distribuição de poder, sendo deslocado do Ocidente para o Oriente, com uma forte ascensão da China, Rússia e Índia.
Em face a realidade, articulações políticas e econômicas estavam sendo mobilizadas mundo a fora. Discurso de contestação a potências hegemônicas e articulações regionais , começaram a estabelecer relações sul-sul, onde gradativamente os países periféricos ganhavam força, e cada vez mais estreitavam relações. A partir de toda essa perda de liderança no sistema mundial, confiança e as inúmeras crises, o BRICS surgiu. Sua origem/ criação se deu através de um estudo sobre mercados emergentes lançado pelo banco de investimento Goldman Sachs sob responsabilidade do economista Jim O’Neill. Esses estudos consistem em uma análise do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e apontavam para o fato de Brasil, Rússia, Índia e China serem os países que poderiam gerar rentabilidade para investimentos em um futuro próximo.
Figura 1: Tabela do PIB dos membros BRICS+
Os investidores que seguiram os conselhos do banco tiveram suas expectativas concretizadas, uma vez que os BRIC apresentaram porcentagens de crescimento importante, ao mesmo tempo em que os países do centro hegemônico, como os Estados Unidos e países europeus, entravam em uma grande crise financeira, a maior desde 1929. O BRICS surge consolidando cada vez mais seu poder no mundo, tal que as relações que se derivavam da constante exploração e falta de contato entre os países até então oprimidos, criaram sua própria rede de apoio, efetuando uma nova abertura geopolítica, se tornando uma nova era. Nos dias atuais, o bloco está presente em todas as regiões do mundo, agregando cerca de 3,2 bilhões de habitantes que, em 2017, representavam aproximadamente 42% da população mundial.
Figura 2: Infográfico sobre os países pertencentes ao BRICS
Além disso, três do total de países do BRICS são membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU), sendo eles Rússia, Índia e China, provendo também de grande capacidade de lançamento nuclear. Não obstante a isso, estes possuem grandes reservas minerais, essenciais para a indústria e tecnologia, um dos tópicos mais sensíveis para as potências que outrora mantinham sua hegemonia no globo à procura de tais recursos para gerir e controlar. Dessa forma, com a formação de um novo grupo e, acima de tudo, um grupo no qual prevalece como o principal interesse das potências, gera um constante atrito e disputa mundial. Dado o seguinte contexto de exploração e tentativa de dominância sobre esses recursos, surge o contexto histórico da África, onde um dos países que a compõe é membro do BRICS. Ilumina-se então a África do Sul, sendo um dos maiores mineradores mundiais, possuindo 64% das minas de platina e produzindo 23% do ouro refinado do mundo, além de ser um grande produtor de pedras preciosas; tal que, por outro lado, quem domina o coração da Eurásia, domina tudo. A Eurásia é o centro de recursos do mundo. Tudo dela provém. A China, grande dominante da Eurásia, é a maior produtora mundial de alumínio, aço e cobre, enquanto a Rússia, também dominante na Eurásia, é reconhecida pelas exportações de suas commodities detendo a segunda maior reserva de carvão do mundo, produzindo 19% do gás natural mundial e possuindo a terceira maior produção de petróleo do mundo. Além de todos esses fatores, o Brasil é o maior produtor de nióbio (89%) e de graphite do mundo e o nono maior produtor de petróleo, com chances de aumentar sua produção após a descoberta de reservas na camada pré-sal. Falando de posição geopolítica, a África do Sul possui uma importância geoestratégica pela sua localização entre o Oceano Índico e Atlântico, tornando-se uma rota e conectando os membros do grupo, além dos outros membros do BRICS, como Egito, Etiópia, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Irã, no qual possuem posicionamentos no globo perante canais fundamentais para o comércio, criando uma extensa supremacia tanto em setores massivos, setores econômicos, comércio marítimo, commodities como no posicionamento geopolítico.
Em suma, assim como o presidente da França, Emmanuel Macron, um dos membros do G7, mostrou preocupação com a expansão do BRICS, afirmou que pode causar uma “fragmentação do mundo” onde "a expansão dos Brics mostra a intenção de construir uma nova ordem mundial alternativa à atual”, alegando que a dominância estabelecida pelo BRICS pode representar um risco de debilitação do G7.
Figura 3: Presidente francês Emmanuel Macron em seu discurso sobre a expansão do BRICS
Assim, a expansão do BRICS mostra uma intenção de construir uma ordem mundial que, apesar de indiretamente - e, dentro do contexto do confronto entre os Estados Unidos e a China e demais potências, a hegemonia do grupo composto por 7 países é afetada, e acirra cada vez mais o globo com tensões econômicas e políticas, bipolariza e cria um sentimento de substituição e destituição de poder no G7, desencadeando todos os tópicos geopolíticos citados para que esse sentimento aconteça, explicando a atual rivalidade e competição em diversos setores e dinâmicas mundiais.
Referências Bibliográficas
BRICS: de estratégia do mercado financeiro à construção de uma estratégia de política internacional: Corival Alves do Carmo, Publicação da Associação Brasileira de Relações Internacionais. 2011
A inserção internacional do BRICS na nova ordem do século XXI: Laís Bretones de Aguiar, Universidade de Brasília, 2014.
Brics: de estratégia do mercado financeiro à construção de uma estratégia de política internacional: Corival Alves do Carmo, Unicamp.
NOVO BANCO DE DESENVOLVIMENTO DO BRICS: ALTERNATIVA AO PODER FINANCEIRO OCIDENTAL?: Charles Pennaforte, Nairana Karkow Bones, Homero de Camargo Filho. 2022
BRICS – um instrumento para a transição hegemônica dos estadunidenses para os chineses: Gabriela Chagas Ottobon, 2016.
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