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Nagorno-Karabakh: a Armênia além das fronteiras

Conflitos étnicos não são novidade para a população da Armênia. A região de Nagorno-Karabakh (ou Artsakh, para os armênios) é disputada pela Armênia e pelo Azerbaijão desde o início da dissolução da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) em 1988. A queda do regime soviético foi o estopim para o desencadeamento de uma série de guerras e conflitos violentos pelo domínio da localidade , mas essa questão é vigente desde antes da dissolução.  


História do Povo Armênio


Formada por povos originários do sul do Cáucaso, a Armênia foi a primeira nação a assumir o cristianismo como religião oficial do Estado, em 301 d.C. Com uma cultura milenar e com tradições riquíssimas, os armênios já foram, e ainda são, alvo de um processo de limpeza étnica, inclusive tendo sofrido um genocídio – quando milhares de armênios foram perseguidos e fugiram para Nagorno-Karabakh –, praticado pelo então Império Otomano, de 1915 a 1923.


A história conturbada do país levou a uma extensa diáspora pelo globo, com concentrações de armênios por todos os continentes, em países como Estados Unidos, Rússia, Austrália e Brasil. Apesar de sofrerem diversos ataques contra a sua etnia, os armênios continuam a se orgulhar de suas origens, praticando e disseminando suas crenças, danças e festividades por todo o mundo.



Figura 1: A Diáspora armênia e as comunidades pelo mundo


Domínio Soviético


A Armênia foi anexada à URSS em novembro de 1920, dois anos após a República Democrática do Azerbaijão ter sido estabelecida pelo então Império Russo. Durante a sua anexação à URSS, a região de Nagorno-Karabakh foi concedida à República Socialista Soviética Armênia, já que sua população era, de fato, de origem armênia. Entretanto, em 1923, a URSS tomou a área que fazia parte da República Socialista Soviética do Azerbaijão, causando, assim, um enorme conflito étnico, já que a população do local, que falava armênio e era cristã, agora estaria sendo comandada por um Estado de maioria muçulmana.


Por mais que o conflito só tenha começado 65 anos depois, as tensões na região de Nagorno-Karabakh iniciaram-se aqui. Com a população e o governo tendo culturas drasticamente diferentes, os armênios da região ficaram “ilhados” depois da resolução do líder soviético. Mesmo sob um governo opressor, os locais não alteraram suas tradições armênias, estabelecidas na região desde tempos anteriores aos romanos.


Com a fragilização e eventual dissolução da União Soviética, o relacionamento entre Armênia e Azerbaijão, que já não era inteiramente amigável, desgastou-se ainda mais. A disputa silenciosa pela posse de Nagorno-Karabakh tomou direções menos pacíficas durante o enfraquecimento da URSS. Em 1988, no ano anterior à queda do Muro de Berlim, – que marcaria o fim da Guerra Fria e, consequentemente, a decadência socialista – a corda que mediava o “cabo de guerra” entre os dois países rompeu-se, com o início de uma série de conflitos armados pelo Azerbaijão e separatistas armênios da região. 


O Conflito


Primeira Parte


Em 1988, forças militares do Azerbaijão e separatistas armênios começaram um combate violento para obter o domínio da região. O conflito começou após o parlamento regional de Nagorno-Karabakh votar a favor da região ser anexada à Armênia. O Azerbaijão, até mesmo durante o domínio soviético, tentou ao máximo sufocar a rebelião separatista, tomando ações repressivas.


A primeira guerra sobre o território estendeu-se pelo início da década de 1990, e levou à morte de aproximadamente 30 mil pessoas. O conflito terminou com um cessar-fogo mediado pela Rússia em 1994, após forças armênias tomarem o controle da região e de áreas adjacentes. Nos termos do acordo, Nagorno-Karabakh ainda era parte do Azerbaijão, porém, a região seria governada por uma república independente.  


Segunda Parte


Depois de quase três décadas desse acordo, em 19 de setembro de 2020, o Azerbaijão quebrou o cessar-fogo, iniciando o que alegaram serem operações antiterroristas em Nagorno-Karabakh e exigindo a rendição dos líderes separatistas armênios. O Ministério da Defesa do Azerbaijão afirmou que a operação teria sido uma resposta à morte de seis pessoas, quatro destas policiais, por explosões de minas terrestres na manhã do mesmo dia.


Em 2020, o Azerbaijão recuperou territórios dentro e ao redor de Nagorno-Karabakh, que estavam sob governo armênio desde 1994, governando-os com a mesma rigidez ditatorial da época soviética. Em dezembro de 2022, o país bloqueou a única rota da Armênia para a região, denominada “Corredor de Lachin”. O corredor é a única estrada que une a Armênia ao enclave, uma área essencial para o abastecimento. Com o bloqueio da área, tornou-se praticamente impossível que recursos e abastecimentos providos pela Armênia chegassem a Nagorno-Karabakh. Em razão disso, a população da região não teve acesso a medicamentos e a alimentos, vivendo a maior parte de 2023 enfrentando fome e doenças.



Figura 2: A disputa por Nargono-Karabakh


Um brutal ataque no local, organizado pelo ditador azeri Ilham Aliyev, que governa o Azerbaijão à 20 anos, em setembro de 2023, levou armênios de Nagorno-Karabakh a deixarem,  em massa, a região a partir do dia 24 de setembro de 2023, uma semana após a vitória do Azerbaijão. O líder da região anunciou que a República de Nagorno-Karabakh, também conhecida como Artsakh pelos armênios, deixará de existir a partir de janeiro de 2024, cedendo oficialmente o território ao Azerbaijão.


Situação atual


No momento, toda a população armênia de Nagorno-Karabakh, cerca de 120 mil pessoas no total, já deixou o território, fugindo majoritariamente para a Armênia. Pelo menos 400 pessoas foram feridas durante a operação antiterrorista do Azerbaijão, além disso, 200 pessoas morreram durante o confronto. O êxodo de armênios da região mostra não só um marco histórico para o fim de um conflito étnico que durou décadas, mas para o fim, muito provavelmente, da presença de armênios em Artsakh depois de milênios.



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