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Avanços no tratamento do HIV: Lenacapavir, o avanço mais importante de 2024 de acordo com a revista Science.

Georgia Falkenbach Rissi

A epidemia do HIV, o Vírus da Imunodeficiência Humana, foi responsável por milhares de mortes na década de 80, possuindo um efeito dizimador na população. Entretanto, com os avanços sendo feitos na ciência e tecnologia, tratamentos foram desenvolvidos para tal doença. 


O vírus, ao entrar em contato com o sistema imunológico, a barreira humana composta por milhares de células que combatem corpos estranhos, consegue destruir as defesas do corpo, facilitando a entrada de outras doenças e infecções que são chamadas de doenças oportunistas. O HIV compromete o sistema imunológico ao atacar os linfócitos T-CD4+, células responsáveis por reconhecer e combater agentes infecciosos. Após entrar no corpo, o vírus se liga a essas células, altera seu DNA e se multiplica até destruí-las, debilitando as defesas naturais do organismo e abrindo caminho para doenças oportunistas. 


A transmissão do HIV pode ocorrer de diversas formas, como pelo compartilhamento de seringas, relações sexuais desprotegidas, transfusão de sangue contaminado, uso de instrumentos não esterilizados e de mãe para filho durante a gravidez, parto ou amamentação. Contudo, pessoas em tratamento adequado, com carga viral indetectável por pelo menos seis meses, não transmitem o vírus sexualmente. Este consenso científico é conhecido pela sigla I=I, ou seja, indetectável, é igual a Intransmissível.  


Não são todos os infectados que terão sintomas, mas para os pacientes que os têm, os mais comuns são: aftas, candidíase vaginal recorrente, varicela zoster, leucoplasia pilosa oral, gânglios linfáticos aumentados, entre outros. É importante apontar que a comunidade científica divide a infecção por HIV em três fases sendo elas a infecção aguda, a infecção crônica e, a última, a fase Aids, vale ressaltar que na primeira fase algumas pessoas podem sentir sintomas gripais, que estão relacionados à entrada do vírus. Algo que muitos não sabem é que o HIV pode causar complicações não infecciosas, caso a pessoa já tenha pré-disposição, o vírus pode deixar o corpo mais suscetível a problemas renais, hormonais, no metabolismo de ossos e músculos, entre outras. 


O tratamento para o HIV é realizado com uma combinação de medicamentos antirretrovirais (ARVs), conhecidos como "coquetel". No Brasil, estão disponíveis 22 medicações desse tipo, que têm sido fundamentais para controlar a carga viral e melhorar a qualidade de vida dos pacientes. 


Qual o diferencial do Lenacapavir? 


O Lenacapavir é um medicamento inovador que representa um avanço significativo no combate ao HIV. Trata-se de uma vacina, que deve ser aplicada de seis em seis meses, e atua como um inibidor da cápside viral do HIV. Essa cápside é de grande importância para o vírus, já que ela protege seu material genético, envolve as enzimas virais necessárias para a sua replicação, e também

desempenha um papel crucial no transporte do conteúdo viral para o núcleo da célula infectada. 


Quando o HIV se une à cápside, ele interfere em dois processos: o de transporte de material, impedindo a replicação na célula hospedeira; e o outro é a montagem e maturação de novos vírus antes mesmo de infectar a célula. Com todas essas possibilidades, a vacina não seria utilizada somente com aqueles que têm HIV, mas também como uma medicação que previne a contaminação pelo vírus. 


Fases de teste e eficácia do Lenacapavir 


A primeira fase de teste foi chamada de Purpose-1 e foi feita com 2.134 mulheres cis gênero de regiões da Uganda e da África do sul, tendo como resultado 100% de eficácia, uma vez que que nenhuma dessas mulheres contraiu o vírus. Já no Purpose-2 o teste foi feito com homens cis, mulheres cis e pessoas trans, e foi conduzido em 88 centros de pesquisa, sendo eles no Peru, Brasil, Argentina, México, África do Sul, Tailândia e Estados Unidos. 


Essa segunda fase foi feita com 3.271 pessoas sendo que somente 1.086 não receberam o Lenacapavir, e sim o Truvada, medicação já utilizada pela população. Após o experimento, observou-se que somente duas delas pegaram o HIV, sendo que a contaminação ocorreu antes da segunda dose, o que traz uma eficácia de 99,9%. Já no grupo do Truvada tiveram 9 contaminados com o vírus, o que faz com que a injeção uma vez por semestre seja 89% mais eficaz na redução de casos do que o Truvada, aplicado uma vez ao dia. 


Por último, vale ressaltar que, mesmo que o Lenacapavir seja um medicamento diferente dos que temos atualmente e com uma alta eficácia, ele não foi criado para ser utilizado sozinho no tratamento, mas sim combinado com os outros medicamentos do “coquetel”. 


O Lenacapavir representa um marco no tratamento e prevenção do HIV, oferecendo uma alternativa altamente eficaz e prática para o combate ao vírus. Embora não substitua os tratamentos existentes, ele complementa as estratégias atuais, reforçando a luta contra uma das maiores epidemias de nossa era. 






REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


[1] Aids / HIV. Disponível em: <https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/a/aids-hiv>. Acesso em: 16 jan. 2025. 

DE FREITAS-INFECTOLOGISTA SP, D. K. M. HIV - Sintomas do HIV e AIDS. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=bHLc7YBgW6E>. Acesso em: 16 jan. 2025. 


[2] DE LA OSA, S. DE C. Cómo funciona lenacapavir, el fármaco elegido por la revista Science como el avance científico del año. BBC, 13 dez. 2024.

HORVATICH, G. Lenacapavir mostra 100% de eficácia na prevenção do HIV em mulheres. Disponível em: <https://site.cff.org.br/noticia/Noticias-gerais/18/07/2024/lenacapavir-mostra-100 -de-eficacia-na-prevencao-do-hiv-em-mulheres>. Acesso em: 16 jan. 2025. 


[3] MARACCINI, G. HIV: injeção semestral reduziu em 96% risco de infecção em novo estudo. Disponível em: <https://www.cnnbrasil.com.br/saude/hiv-injecao-semestral-reduziu-em-96-risco de-infeccao-em-novo-estudo/>. Acesso em: 16 jan. 2025. 

Qual a diferença entre HIV e aids? Disponível em: <https://www.pfizer.com.br/noticias/ultimas-noticias/qual-diferenca-entre-hiv-e-ai ds>. Acesso em: 16 jan. 2025.


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