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Potencial das Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCs)na Promoção da Saúde da População Negra

As Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCs), referem-se a plantas que possuem uma ou mais partes comestíveis, sendo elas espontâneas ou cultivadas, nativas ou exóticas que não estão incluídas em nosso cardápio cotidiano (KINUPP, 2014). Os hábitos alimentares com algumas dessas plantas dependem das regiões geográficas, e em alguns lugares o conhecimento sobre o uso e consumo de determinada planta é tão forte na localidade que ela não é considerada PANCs. No Brasil, possuímos uma variedade enorme de plantas comestíveis que eram consumidas pelos nossos ancestrais. Entretanto, seja pela globalização ou padronização alimentar, deixamos de consumir mais de 50 mil espécies de plantas comestíveis com potencial nutricional de baixo custo. De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), essas plantas silvestres comestíveis são essenciais para a subsistência de todos os grupos socioeconômicos, pois oferecem remédios e alimentos, além de auxiliarem na preservação dos recursos naturais. As plantas silvestres além de ser bem mais duradoras que as demais tipos de espécies de plantas considerando que as plantas silvestres se adaptam mais as mudanças climáticas ao longo do tempo bem como as mudanças de temperatura à ocorrência de geadas e ao regime de chuvas também devemos ressaltar que que as plantas silvestres auxiliam na manutenção e conservação do solo e dos rios Algumas plantas exóticas causam problemas por serem de fácil dispersão, o que acaba por prejudicar o crescimento de espécies nativas. Desta forma, o solo acaba “empobrecido” por não ter mais diversidade de plantas de diferentes portes (árvores, arbustos e herbáceas) e micro-organismos. Por isso, as plantas Silvestres também contribuem para a regeneração destas áreas, garantindo a conservação dos recursos naturais. O resgate dessas plantas é fundamental para a nutrição da população negra, ao qual são as mais atingidas pelo racismo alimentar, o aumento das desigualdades sociais e consequente pobreza no Brasil, certamente têm dado outro significado ao ato de comer. Dados alertam para o não acesso a alimentação por 125,2 milhões de brasileiros, que em 2022 passaram por algum grau de insegurança alimentar, estejam eles vivendo no campo ou na cidade. E desproporcionalmente maior entre mulheres e pessoas negras (REDE PENSSAN 2022).


Insegurança alimentar diz respeito ao não acesso pleno e permanente de alimentos em quantidade e qualidade, sendo a fome a sua forma mais grave. O artigo A imposição da fome é racismo alimentar (CASTRO, 2022a), retrata o distanciamento da população negra do acesso à terra e também do consumo de alimentos saudáveis (Racismo Fundiário e Alimentar), onde a fome recai sobre esta população de forma impositiva, uma forma eugenista de controle social. Um dos grandes pensadores sobre a fome no Brasil, Josué de Castro, em 1980 descreveu a fome não meramente como uma causalidade natural ou geográfica, mas como resultado da omissão humana, resultado de processos, econômicos

e históricos. Já que as condições científicas e tecnológicas para

erradicá-las já estavam disponíveis (CASTRO, 1980).


Esta segregação alimentar no país, poderia ser descrita como um Apartheid à moda brasileira, mascarado por uma falsa democracia racial. Apartheid, que em africâner significa “segregação”, regime de separação racial ocorrido na África do Sul (1948 a 1994) O conceito de Apartheid Alimentar (food apartheid), é usado para destacar as estruturas políticas racialmente discriminatórias que impactam o acesso e o controle dos alimentos. Por outro lado, comunica que a distribuição geográfica de crescentes barreiras ao acesso alimentar podem ser explicada pelo legado contínuo de estruturas econômicas e políticas racialmente discriminatórias.


O Apartheid Alimentar foi potencializado durante a crise sanitária da Covid-19. Se por um lado ocorria um aumento no consumo de alimentos ultraprocessados por famílias em situação de pobreza no Brasil (uma medida adotada para prolongar a duração dos alimentos nas despensas, um ajuste financeiro para driblar a fome), por outro lado, no mesmo período, o mercado de orgânicos apresentou crescimento de 30%, e o poder de compra destes alimentos ficou concentrados em famílias da classe média e alta com renda permanente (SILVA, 2020; ORGANICS, 2020) As desigualdades sociais e o racismo determinam quem tem acesso à alimentação e sobretudo à alimentação saudável no Brasil.


O racismo é um dos principais determinantes da insegurança alimentar e nutricional da população brasileira. É um erro criar políticas públicas para erradicar a fome que não considerem isso.


É fundamental que os sistemas alimentares estejam orientados na promoção da saúde da população e não em nichos de mercados. Uma nova geografia alimentar dependerá não somente de arranjos descentralizados de produção de alimentos agroecológicos, mas também da democratização do acesso à alimentação saudável.


É urgente iniciativas que promovam mudanças estruturais, e estabeleçam processos democráticos, com a participação plena dos movimentos populares e sociais que representam o povo preto, e que possuem um acúmulo de propostas para construção de novos caminhos para uma alimentação saudável no Brasil.


Os impactos de consumir apenas alimentos ditados pelos mercados e o desuso da alimentação tradicional ocasionam barreiras na nutrição, gerados pela segregação e falta de acesso aos recursos básicos. O potencial nutricional das plantas alimentícias não convencionais vem sendo comprovado conforme elas vão aumentando a sua popularidade, surgindo a necessidade de estudos para garantir a segurança alimentar. A ora-pro-nóbis (Pereskia aculeata Miller), por exemplo, pertencente à família Cactácea, era conhecida como “carne para os pobres” devido ao seu alto teor de proteínas em comparação com outras plantas comumente usadas como alimento. Suas folhas também contêm grandes quantidades de vitaminas (A, C e ácido fólico), minerais (manganês, zinco, cálcio, ferro e magnésio), fibras e hemicelulose, importantes para a nutrição humana (SANTANA et al., 2018), podendo  ser  utilizada como  complemento  na  dieta  alimentar  das  famílias -  além  de possibilitar o aproveitamento dos recursos naturais facilmente disponíveis.



Objetivo:

Abordar a importância das Plantas Alimentícias não Convencionais como potencial nutritivo de baixo custo no combate dos efeitos nocivos da soberania alimentar na desvalorização do conhecimento ancestral, realizando a divulgação do conhecimento para minimizar os impactos na saúde da população negra e estimular o resgate do conhecimento tradicional. 


Métodos:

Estudo de revisão bibliográfica, utilizando como metodologia os artigos publicados sobre o tema, entre o período de 2012 e 2023, a fim de validação científica. 

 

Foram revisados 10 artigos com citações e referências, aos quais foram abordados o potencial nutritivo das Plantas Alimentícias não-Convencionais,

redução de custos, biodiversidade alimentar, redução de impactos ambientais, os prejuízos da soberania alimentar, o racismo alimentar e a saúde da população negra. Foi possível observar a partir de dados como a desvalorização do conhecimento tradicional afeta a população negra de forma histórica, que deixa de explorar as plantas regionais com potencial nutritivo, e como a alimentação restrita em trigo, milho e soja (monocultura) afeta a qualidade de vida da população. Enquanto uma diversidade de plantas é esquecida pelo desuso alimentar. 


É necessário garantir o acesso da população negra a serviços de cuidados à saúde para promoção de equidade social, através de políticas públicas e divulgação do potencial alimentício das plantas tradicionais, segurança alimentar e aumento de estudos.





Referências Bibliográficas


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