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Foto do escritorJulia Puppi

É assim que ciências deveriam ser ensinadas nas escolas

Se você não é um aluno (ou ex-aluno) que gosta de ciências, deve imaginar que Biologia só serve para nomear partes de uma briófita, Química só é divertido nos filmes, quando vemos explosões em um mini-frasquinho (conhecido cientificamente como erlenmeyer), e Física então… o pesadelo de qualquer estudante do Ensino Médio no Brasil.

Muitos desses pensamentos estão associados à maneira como a área de ciências naturais é posta para suas "vítimas", e não apenas no Ensino Médio, como desde muito cedo. A partir do momento que os alunos entram na escola, são amedrontados pelas disciplinas de ciências naturais, mesmo que ainda não as possuam na grade horária. “Estou com medo do Ensino Médio, imagina ter Física?!” ou “Ouvi dizer que a sala de recuperação da professora de Química é a mais lotada” são pensamentos, ou melhor, boatos que rondam os corredores do fundamental.

Os estereótipos vão perdurar na sociedade: de tanto falarem que as matérias em questão são difíceis, já vira verdade, antes mesmo de terem a oportunidade de as conhecerem. Os alunos, “naturalmente”, chegam aterrorizados no Ensino Médio, com um receio das ciências naturais, mostrando até uma aversão a elas.


Então não tem solução? Todos vão possuir uma repulsão por ciências e é isso?


Calma lá… Não é bem assim!

Há uma solução, e esta possui como principais agentes os professores da área. Os ocupados por ensinar ciências naturais normalmente passam por um verdadeiro desafio quando o assunto é incentivar os (poucos) alunos vencedores dos estereótipos e já interessados em suas disciplinas, ou instigar o lado científico do restante da sala.

Não é uma missão fácil. Misturada com a quebra da barreira causada pelo estigma na reputação das ciências naturais, a falta de incentivo por parte de muitas instituições educacionais na área ainda é um conflito. Por exemplo, uma reportagem lançada pelo site G1 afirma que apenas 11% das escolas brasileiras possuem laboratório de ciências.

Ciências naturais deveriam ser ensinadas nas escolas com seu devido propósito: desenvolver o raciocínio investigativo e dedutivo dos estudantes. Um professor de Física que prende seus alunos às fórmulas está os ensinando a decorá-las. Um professor de Biologia que se limita aos nomes de membros dos seres vivos não explora o que a disciplina tem, de fato, a oferecer. Já um professor de Química que trabalha apenas a tabela periódica reforça ainda mais os estereótipos antes postos.

Para um estudante de ciências, não há melhor projeto do que aqueles os quais o único requisito seja um tema amplo. Trabalhos mais livres, por exemplo, incentivam o imaginário científico dos alunos, fazendo com que eles se empolguem com a área de ciências naturais e entendam que há muito mais para explorar do que os ditos populares apontam.

Essa liberdade não deve ser concedida apenas em tarefas, um bom tutor de ciências reconhece o poder de sua disciplina e nunca limita um aluno. Nenhum professor deve usar a frase “você está indo longe demais”, pelo contrário, é esperado que incentive sempre seus estudantes a irem ainda mais longe.

Por fim, há também um papel essencial para o futuro cientista: seja seu próprio incentivo! O aluno possui consciência de que o futuro de alguém interessado nessa área é difícil, principalmente no Brasil. Se dependente de apoio externo, a missão de seguir nessa carreira torna-se praticamente impossível. É do estudante que partirá todo o esforço para percorrer os desafios que surgirão. Desta forma, este deve ter sempre em mente o seguinte lema: para um cientista, nem o céu é o limite!


O professor de Biologia Stefan Bovolon, em uma entrevista para o jornal, aborda seu ponto de vista a respeito do tema, confira!


Como deveríamos ensinar Ciências nas escolas?


"Algo tão importante para uma sociedade, desde tempos remotos e ainda mais nos dias de hoje com tantos questionamentos para as ciências, as disciplinas sempre devem estar em pauta de elevada importância em qualquer lugar que seja do nosso planeta. Pelo simples fato de por meio dela termos a real chance de melhorar a qualidade de vida das pessoas, a coexistência com a natureza e garantir o futuro.

Partindo desse pressuposto precisamos ter claramente que as Ciências devem ser demonstradas em todas as suas potencialidades, aberturas e conexões pois são um plural de ideias (por isso CiênciaS).

Vejam só um exemplo: ao estudarmos algum tema da natureza, a abordagem tende a se resumir no conceito, nas características (fisiológicas, por exemplo), podendo ganhar profundidade na própria área que diz respeito. O que pode não fazer sentido para algumas pessoas que a estudam, por afinidades de conteúdo, por exemplo. Essas particularidades devem ser colocadas juntamente (e habilmente) mediadas com outras disciplinas e áreas do conhecimento.

Dessa maneira, um conceito de determinado ser vivo pode ganhar novos contornos, como o desenvolvimento de novas tecnologias baseadas nele, como as biomiméticas e biotecnologias, que nos últimos anos vem ganhando cada vez mais espaço não só nas áreas de biológicas e da natureza, mas também nas áreas como a das engenharias e da jurídica, por exemplo."

Existe receita para ensinar Ciências?


"Existem experiências e reflexões excelentes, das quais estou depondo aqui. Sendo que as mais memoráveis e significativas, não somente para a minha pessoa mas também para alunos e alunas, são as atividades, trabalhos e projetos em que possibilito que todas e todos transcendam o conteúdo em si e façam conexões com outras disciplinas e áreas do conhecimento. As reflexões, os produtos desenvolvidos nos percursos, posteriores, são os mais bonitos que já presenciei como professor, pesquisador e ser humano.

Saber que grupos usaram como ponto de partida o conhecimento biológico para desenvolver produtos, usando conexões com conhecimentos da física, da química, da história, da área financeira, entre outros, para propor uma melhora da qualidade de vida das pessoas e do planeta (meio ambiente) é sensacional.

É assim que eu ensino Ciências (e penso que deveria ser ensinada em todo o planeta), para poder ajudar a formar pessoas mais humanizadas, mais justas, respeitando todas as diversidades existentes, e respeitando o planeta em que vivem.”




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